Gilberto Costa*
Enviado Especial
Boa Vista (RR) - Enquantoos governadores da Amazônia Legal e o ministro Mangabeira Unger(Assuntos Estratégicos) participam de um fórum noPalácio do Governo de Roraima para discutir o Plano AmazôniaSustentável, a 250 metros dali, ruralistas despejam grãos,soltam morteiros, cantam o Hino Nacional e fazem discursos emprotesto contra a decisão das grandes companhias fabricantesde óleo de soja de não comprar grãos deplantações situadas na Terra Indígena RaposaSerra do SolSegundo os produtores,cem mil sacas de soja (cerca de 6,2 mil toneladas) estão semcomprador desde que a companhia Bungue e o grupo Maggi (da famíliado governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, presente ao fórum)decidiram não comprar o grão, em respeito àmoratória proposta pela Associação Brasileiradas Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).A primeira moratóriada soja foi assinada em julho de 2006 e o convênio assinado entrea Abiove e organizações ambientalistas (Greenpeace,WWF, Conservação Internacional, entre outras). No anopassado, ela foi renovada por mais um ano com a participaçãodo Ministério do Meio Ambiente. Segundo o termo, as indústriasprocessadoras de soja não podem comprar matéria-primade nenhuma área protegida, como terras indígenas eunidades de conservação ambiental.“O problema nãoé só perder a produção, mas nãoter condições de fazer novo plantio”, lamenta PauloCésar Quartiero, ex-prefeito do município de Pacaraima,nos limites da Terra Indígena Raposa Terra do Sol, ex-presidente da Associação de Produtores de Arroz deRoraima e produtor de soja. Segundo ele, os grãos estocadosnão podem ser embargados porque o Supremo Tribunal Federal(STF) ainda não terminou o julgamento sobre a demarcaçãoda reserva indígena.O produtor criticou adecisão das indústria de processamento soja de nãocomprar o grão produzido em áreas desmatadas dafloresta e a posição das organizaçõesambientalistas e do governo. O STF interrompeu ojulgamento da demarcação da reserva Raposa Serra do Solem 10 de dezembro do ano passado atendendo o pedido de vista doministro Marco Aurélio de Mello. Dos 11 ministros da Corte,oito já votaram em favor da demarcação.