Danilo Macedo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Apesar de o governo brasileiro estar fechando os últimosacordos para o início da importação do trigo russo, o tipo do produto nãosatisfaz as necessidades internas brasileiras. Paulo Magno Rabelo, analista domercado de trigo da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), disse à Agência Brasil que “o trigoproduzido pela Rússia é o soft, com menos proteínas, usado na fabricação debolachas e biscoitos, e que não tem as características próprias para o pãofrancês".O país precisará importar mais de dois milhões de toneladasde trigo nesse ano, além do que será produzido internamente e das importaçõesvindas da Argentina. Isso ocorrerá porque a Argentina, principal fornecedor domercado nacional, terá uma queda brusca na produção, caindo de 16 milhões detoneladas de trigo na última safra para menos de nove milhões de toneladas na atual safra.Um grupo de trabalho do Ministério da Agricultura está emMoscou para fechar acordos de comércio bilateral, em que os principais itens dapauta são a importação de trigo russo e a ampliação das exportações de carnesuína. Uma das idéias levantadas pelo governo seria atrelar uma coisa à outra.Rabelo explica, no entanto, que o trigo importado dosargentinos é do tipo hard, com mais proteínas, ideal para a fabricação do pãofrancês. Outros países que poderiam fornecer esse mesmo trigo seriam Canadá eEstados Unidos, como chegou a acontecer no ano passado, embora em menor escala. O trigo russo, de acordo com o analista da Conab, é do mesmotipo do produzido no sul do país. “Esse tipo de trigo o Rio Grande do Sul jáproduz 2 milhões de toneladas por ano, o que já é suficiente”, afirmou.Além disso, o analista também considera prejudicial umapossível redução da Tarifa Externa Comum (TEC), hoje de 10%, para a importaçãode trigo de países fora do Mercosul. “A balança comercial brasileira passa porum momento delicado. O Brasil gastou [em 2008] US$ 2,1 bilhões na importação detrigo. O que precisamos é produzir trigo aqui, e não incentivar importação”,disse Rabelo.O especialista também contou que há um excedente de trigo nomundo, o que, inclusive, tem feito os preços caírem nos mercados nacional e internacional.Enquanto o consumo mundial foi de 652 milhões de toneladas em 2008, a produçãofoi de 682,7 milhões de toneladas, o que mostra que o país não deverá terproblemas para encontrar trigo para comprar.O consumo nacional é de cerca de 10 milhões de toneladas porano. Vários especialistas do governo e do mercado dizem que o ideal seria o paísproduzir sete milhões de toneladas. Incentivado pelo aumento do preço do trigo nomercado internacional, o racionamento da quantidade fornecida pela Argentina eo plano lançado pelo governo no ano passado, para incentivar os produtores, aprodução brasileira de trigo saltou de quatro milhões de toneladas na safra 2007/08para seis milhões de toneladas na safra 2008/09.