Sociedade Brasileira de Urologia denuncia precariedade no atendimento pelo SUS

04/02/2009 - 17h54

Lisiane Wandscheer
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O presidente daSociedade Brasileira de Urologia (SBU), José Carlos deAlmeida, apresentou hoje (4) um dossiê ao ministro da Saúde,José Gomes Temporão, denunciando diversos problemas nosatendimentos urológicos feitos pelo Sistema Único deSaúde (SUS).

O presidente da entidade consideroua reunião satisfatória. “O ministério seprontificou a criar um calendário com reuniõesperiódicas para acompanhar a evolução dotratamento urológico pelo SUS. Nos informaram que seriapossível a destinação de mais verbas, masdeixaram claro que esta não é uma atribuiçãoapenas do governo federal e que é necessário a atuaçãoconjunta dos gestores municipais e estaduais”, afirmou.Segundo dados da SBU, existem mais de 2.500pacientes utilizando sonda, que precisam retornar ao hospital de 30em 30 dias, enquanto aguardam a cirurgia de próstata quedemora cerca de cinco meses para ser realizada.O médico urologista do Hospital da SantaCasa de Campo Grande (MS), Alexandre Campos Bom Fim, explica que 80%dos atendimentos urológicos necessitam de procedimentosinvasivos (cirúrgicos) e grande parte dos equipamentospertence aos médicos que trazem de suas clínicasparticulares. “O médico tem quase que pagar para fazera cirurgia, agora até o material para fazer a esterilizaçãoprecisamos comprar. Além disso, muitos médicos sãocontratados para fazer consultas e não recebem pelascirurgias”, denuncia o urologista.Bom Fim disse que devido às longas filas deespera para o atendimento, o diagnóstico ou o tratamentoacabam sendo tardios e agravando a doença. “Alguns pacientesentram no hospital com cálculo renal e acabam perdendo o rim”,afirmou. O especialista em urologia do Hospital Regional daAsa Norte (Hran), em Brasília, Bruno Vilalva Mestrinho disseque no Distrito Federal morrem por ano cerca de 500 pessoas comcâncer de próstata que não conseguiram seratendidas a tempo de fazer a cirugia. No país o númerochega a cerca de 50 mil por ano.“A espera por cirurgias urológicas chegaa até cinco e as vezes é tarde. Em 2008 foramrealizadas trezentas cirurgias, muitas aguardavam a váriosanos”, disse.O chefe do Serviço de Urologia do Hospitalde Base de Brasília, Dídimo de Carvalho Telles, relataque apesar de fazer o atendimento pelo SUS o Hospital de Base tem umarealidade diferente dos demais hospitais do país.“Recebemos pacientes de todo o país, porisso somos priorizados para o envio de recursos públicos.Atualmente existem 190 pacientes em fila de espera para fazercirurgias de cálculo renal, uretra e retirada de rim e mais 60pacientes que aguardam que o equipamento para tratamento urinárioà laser seja consertado. Mesmo assim estamos em situaçãomuito melhor”, afirmou.Roque Dias Santana, de 60 anos, é um dosque esperam na fila do Hospital Regional de Campo Grande para fazeruma cirurgia de próstata. “Eu nem lembro direito o tempo queeu tô esperando, mas faz mais de seis meses. A doutora disseque no momento não estão fazendo cirurgia de graça,mas eu não tenho dinheiro pra pagar”.Dea cordo com o Ministério da Saúde, o ministro JoséGomes Temporão, informou ao presidente da Sociedade Brasileirade Urologia, José Carlos Almeida, que a PolíticaNacional de Atenção Integral à Saúde doHomem deverá ser lançada ainda neste semestre e sugeriu a criação de uma câmara técnica dediálogo permanente com a sociedade. Paraque essa política seja adotada, o Ministério da Saúdejá destinou aos Estados R$ 2,7 milhões que serãoaplicados na criação das áreas técnicasde saúde do homem nas secretarias estaduais. capitais. Algumasações previstas para este ano já foram definidas.Entre elas, a implantação da saúde do homem noscursos de capacitação da especializaçãodos 32 mil médicos das Equipes de Saúde da Família(80% do total) e da educação à distância;apoiar a política de atenção à saúdedo homem nas secretarias estaduais e nas capitais; lançar aSemana de Promoção da Saúde do Homem, que serácomemorada no mês de agosto, no Dia dos Pais; distribuir 26,1 milhõesde cartilhas sobre prevenção, diagnóstico,tratamento de câncer e promoção da saúde;aumentar em 20% ao ano o número de consultas para diagnósticode doenças urológicas; e ampliar em 10% ao ano ascirurgias. O secretáriode Atenção à Saúde, Alberto Beltrame,também informou para José Carlos Almeida que, no final de dezembro, o Ministério da Saúdereajustou de 10% a 30% vários procedimentos urológicos.Beltramedisse também que parte da demanda reprimida ou a fila deespera por cirurgias pode ser resolvida por meio dos projetos decirurgias eletivas. Ressaltou que existem 193 projetos nos estados emunicípios para diversas áreas, alguns incluemcirurgias urológicas. “A curto prazo, serãorealizadas 3,5 mil cirurgias. A SBU poderia ajudar os gestores aidentificar essa demanda e construir os projetos”, afirmou.