Rio desperdiça potencial econômico da indústria do carnaval, constata pesquisa

04/02/2009 - 13h00

Flávia Villela
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O Rio de Janeiro aindanão soube aproveitar todo o potencial do carnaval de gerarrenda e emprego para o estado e o país como um todo. Éo que constata pesquisa realizada pela Secretaria Estadual doDesenvolvimento Econômico, Energia, Indústria e Serviçosdo Rio de Janeiro, com publicação prevista para oinício de março. Os dados, apurados nosanos de 2006 e 2007, apontam que a indústria do carnavalmovimenta em média R$ 700 milhões e emprega cerca de400 mil trabalhadores só na cidade do Rio de Janeiro, com osdesfiles das escolas de samba do Grupo Especial.O estudo, intitulado“Cadeia produtiva da economia do carnaval”, busca mapear asdiferentes atividades do setor e identificar desafios e traçardiretrizes para desenvolver e solidificar o evento como negócio.São diversas asetapas do processo produtivo de um dos principais eventos do país,começando pela produção da matéria-primapara fantasias e carros alegóricos, passando pela elaboraçãode projetos criativos, por obtenção de recursosfinanceiros, divulgação e marketing e culminando noproduto final: a festa.A mão-de-obraenvolvida no carnaval é enorme e variada. Costureiras,carnavalescos, maquiadores, cabeleireiros, chapeleiros, aderecistas,figurinistas, operários das fábricas de tecidos earmarinhos, fabricantes de máscaras, confetes e serpentinas,massagistas, nutricionistas; arquitetos, engenheiros, carpinteiros,artesãos, eletricistas, iluminadores, sonoplastas, ambulantese taxistas, entre outros, participam da preparação doevento.Para o coordenador doestudo, Luiz Carlos Prestes Filho, o carnaval está isolado dasatividades empresarias que mais ganham e lucram com esse período,como os segmentos de hotelaria e turismo, audiovisual e gráfico.Ele defende uma atuação mais direta do setor privado narealização da festa, com políticas direcionadasde articulação com as escolas de samba e blocos de rua.“No Brasil, nãotemos a ampla visão da riqueza que podemos gerar com essaindústria. O carnaval brasileiro é tãoimportante quanto a Broadway e a indústria de cinema nosEstados Unidos. Precisamos articular políticas públicase empresariais para aproximar as cadeias e serviços docarnaval, para assim dar maior robustez a essa atividade criada pelopovo brasileiro”.Investir nos desfilesdas escolas do Grupo de Acesso é outro desafio identificadopelo estudo. Além das 12 escolas de samba do Grupo Especial,cerca de outras 40 desfilam na estrada Intendente Magalhães, zona norte da cidade. O local recebe majoritariamente um públicoque não tem dinheiro para assistir ao renomado carnaval daMarquês de Sapucaí.“Ali se realiza umaprendizado do carnaval, aquele mais popular, que existia nos anos 50e do qual muitos falam com tanto saudosismo. O convívio dapopulação de menor poder aquisitivo com as escolas desamba é muito importante e deve ser valorizado. Sãoelas que vão fornecer a matéria-prima que é ofolião carnavalesco que, no futuro, fará parte do GrupoEspecial”.Ele sugere a melhoriada infra-estrutura do espaço para aproveitar mais o potencialda festa. O coordenador da pesquisa também ressaltou aimportância do apoio às pequenas empresas e aos artesãosque vivem do carnaval. Segundo ele, faltam políticas públicase empresariais que atendam a todos os seus atores da cadeiaprodutiva.É o caso dasbordadeiras de Barra Mansa, na zona sul fluminense. O estudo apontaque as mais de duas mil profissionais produzem 39 milhões debordados por ano, sendo que 58% da produção évoltada para suprir as demandas das escolas de samba do Rio e lojasque vendem artigos carnavalescos. Cerca de 26% sãovendidos a comerciantes paulistas do ramo. O negócio geracerca de R$ 52 milhões por ano, representando cerca de 4,5% doProduto Interno Bruto (PIB) de Barra Mansa. Apesar do expressivovolume de trabalho produzido, não há cooperativas ouassociações organizadas para a realizaçãodo trabalho e a evasão fiscal é recorrente.