Fernanda Isidoro
Repórter da TV Brasil
Brasília - Logo que o projeto foi apresentado, a polêmica começou. A Praça da Soberania é um complexo que inclui um memorial dos presidentes brasileiros, estacionamento para 3 mil carros e um obelisco de cerca de 100 metros de altura no canteiro central do Eixo Monumental de Brasília, entre a rodoviária e o Congresso Nacional. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) disse que a praça fere o tombamento da cidade. Desgostoso com o rumo que o debate tomou, com críticas diárias nos jornais de Brasília, o arquiteto Oscar Niemeyer rebateu o argumento de que a cidade não pode ser modificada. Ele recebeu a equipe da TV Brasil em seu escritório na zona sul do Rio de Janeiro, no último andar de um prédio com vista para a Praia de Copacabana. Sem esperar a primeira pergunta, começou a fazer a defesa da praça.O projeto"Nas cidades satélites, temos quase 3 milhões de brasileiros abandonados. Isso cria um contraste com os que vivem no Plano Piloto. Enquanto uns estão abandonados, os do Plano Piloto têm vida boa. Esse contraste me incomoda muito. Quem vai a Brasília e depois vai às cidades satélites fica com a impressão de que é uma cidade dividida entre pobres e ricos. Foi isso que me motivou a criar a praça. Minha idéia foi lutar para não parecer que Brasília é uma cidade dividida entre pobres e ricos. Tenho certeza de que JK [Juscelino Kubitschek] nunca gostaria de ver uma cidade neste sentido. Ele pensava que Brasília seria um exemplo de cidade justa para todos".Tombamento"Não há razão para uma cidade não poder ser modificada. Isso aconteceu no mundo inteiro. Na França, a planta preliminar de Paris foi mudada. Em Nova York apareceram os arranha-céus e a cidade antiga horizontal perdeu a importância que tinha. Interferir numa cidade vai acontecer sempre. No Brasil mesmo, se o Rio estivesse tombado, o Pereira Passos não teria feito essa avenida fantástica que corta a cidade de lado a lado. Uma cidade tem que ser modificada. Vai sempre aparecer uma coisa diferente que é obrigatório aceitar". Praça da Soberania"Meu projeto vai ficar na prancheta. Quem sabe pronto para ser utilizado no dia que um governador apareça, mais tarde, e concorde com os pontos de vista que estou defendendo. Por que continuar nesse clima de ódio e discussão que não leva a nada? Principalmente nós que queremos cidades tranqüilas, com pessoas se entendendo, procurando ajudar o outro".Arquitetura"Eu não dou essa importância definitiva à arquitetura. Passei a vida em cima da prancheta. E o importante é a vida. É a solidariedade. É lutar por um mundo melhor. O resto é fantasia".