"ONGs não podem ser o paradigma de outro mundo possível", diz Emir Sader

01/02/2009 - 0h28

Luana Lourenço
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O outro mundo possível pode estar além do espaço de debates ediscussões do Fórum Social Mundial (FSM). Ao fim da nona edição, quetermina hoje (1°) em Belém, as primeiras análises sobre a maior reuniãode movimentos sociais do planeta começam a aparecer. O sociólogo Emir Sader avalia com“frustração” o resultado de uma semana de debates sobre alternativas à situação mundial. “Háum certo sentimento de frustração em relação ao que o Fórum poderiadizer o mundo, mas parece que está girando em falso”, apontou. Saderreitera a opinião apresentada antes do início do evento: o Fórumprecisa se renovar. A mudança incluiria mais espaço para osgovernos no FSM. Sader fez duras críticas à presença maciça deorganizações não governamentais (ONGs) no Fórum, em detrimento dosmovimentos sociais. “Onde estão as massas nas ruas mobilizadas pelas ONGs?Quem faz o Fórum são os movimentos populares. Elas [ONGs] têm lugar,mas o protagonismo tem que ser dos movimentos sociais.” Naavaliação de Sader, “as ONGs não podem ser o paradigma de outro mundopossível”. O cientista defende a integração de experiênciasaltermundistas reais ao espaço de debates do Fórum, mesmo que venham degovernos. “O Evo Morales não deveria ter vindo apenas para as reuniões com os presidentes, deveria ter vindoaté aqui, mostrar as experiências que a Bolívia está vivendo como oregime democrático mais legitimado da América Latina”, avaliou. Mais otimista, ojornalista Luis Hernández Navarro, editor do jornal mexicano LaJornada, acredita que a volta do FSM ao Brasil renovou as perspectivasdo encontro, que nos últimos anos dava sinais de esgotamento. “Depois deNairóbi [2007], em que até empresas privadas financiaram o Fórum, acheique o lema Outro Mundo é Possível poderia ser trocado para Outro Turismo é Possível.  Dava a impressão que o modelo de Porto Alegrehavia passado por provas difíceis de superar”, afirmou. Aavaliação de Navarro ao fim de uma semana do Fórum amazônico mudou. “OFórum existe. Não é uma invenção, uma quimera, ou uma construçãomidiática. É um foco importante de irradiação de idéias”. Navarrodefende o FSM como única instância internacional de ativismo. “É aúnica organização multi-setorial com um projeto emergente.” Para ojornalista, a presença de cinco presidentes latino-americanos no Fórumem Belém mostra que a reunião ainda influencia a tomada de decisões políticas. “O Fórum faz sonhar e pode ter muito a dizer, pela capacidade de pensar alternativas para a crise.” Últimodia de programação, hoje o Fórum realiza o chamado Dia das Alianças,com assembléias temáticas que vão debater e tentar sintetizar asdemandas e análises discutidas ao longo da reunião.