Mortandade de peixes no Rio de Janeiro pode se repetir nos próximos dois anos

01/02/2009 - 10h02

Isabela Vieira*
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - As causas da mortandadede peixes na Lagoa de Araruama, na região dos Lagos (RJ) , háuma semana, ainda são investigadas. Segundo a prefeitura de umdos municípios afetados, o despejo de esgoto in natura noecossistema pode ter provocado o incidente. O desastre ecológicoresultou na morte de pelo menos 40 toneladas de peixes, mas asassociações de pescadores calculam um volume bemsuperior, de 700 toneladas. Este é o terceiro ano quehá mortandade na lagoa , e a Secretaria Estadual do Ambientenão descarta que isso venha a se repetir nos próximosverões. O Instituto Estadual doAmbiente (Inea) – órgão da secretaria –, aponta as chuvas e o lançamento de esgoto como prováveiscausas do incidente. As duas concessionárias de água daregião têm permissão para abrir as comportas edespejar esgoto sem tratamento na lagoa toda vez que estiveremoperando acima da capacidade. Por causa do excesso de chuvas, aProlagos – responsável pelo tratamento em três cidades– informa que teve de optar pelo procedimento, mas garante que oesgoto estava diluído na água e era a menor parte dosdejetos lançados na lagoa.“Não temjeito. Isso [a mortandade] pode acontecer por mais um ou doisanos”, afirma o presidente do Inea Luiz Firmino Martins. Emboracaptem toda a água das chuvas por meio do sistema de drenagem,Firmino explica que o contrato com as concessionárias sóprevê o tratamento de esgoto em tempo seco. “Quando chovetemos um excedente que não tem como ser tratado, que édespejado na lagoa.”Na época daassinatura do contrato, lembra Marins, o modelo que teria capacidadepara tratar tanto a água da chuva como o esgoto, chamadoseparativo, custaria muito mais caro e foi excluído. “GastamosR$ 100 milhões com esse modelo [para tempo seco]. Com oseparativo, gastaríamos dez vezes mais. Em vez de começara atender logo a região e tentar recuperar a lagoa, estaríamosaté hoje com apenas 10% da rede pronta por falta de recursos.”Ainda assim, segundoele, até o final de 2008, cerca de 40% do esgoto produzido nossete municípios banhados pela lagoa eram jogados nela semtratamento. “É claro que fazer a rede completa, separativa,está nos nossos planos, mas isso deve levar entre dez e quinzeanos.”Enquanto não hádinheiro para o modelo ideal, o consórcio responsávelpor administrar a lagoa – formado por governo, empresas e sociedade– investe em novas estações de tratamento em temposeco e em melhorias para a lagoa, como a dragagem do Canal deItajuru, onde devem ser investidos mais R$ 15 milhões até2010. “A solução é fortalecer a lagoa para quenão sofra um impacto grande como esse quando isso [aabertura das comportas] for necessário, porque nãoexiste medidade curto prazo”, diz Martins.Ao descartar aconstrução de um emissário submarino, opresidente do Inea informa que consta dos planos para a lagoa odesvio da água tratada para um rio, diminuindo a quantidadedespejada na laguna - com a maior salinidade do mundo -, alémda utilização do Canal de Monte Altos, ampliando atroca com o mar. A água doce daschuvas, assinala Firmino, desequilibrou a lagoa salgada e causou, como esgoto, a mortandade dos peixes. O nível de sal estariabaixo em Araruama, Iguaba e São Pedro da Aldeia –municípios mais afetados entre os sete banhados pela lagoa. Aprefeitura de São Pedro decretou situação deemergência, na semana passada, para garantir indenizaçãopara cerca de dois mil pescadores afetados.Muitos acreditam em umatragédia anunciada. Em 2007 e 2008, houve mortandade depeixes. Segundo o vice-prefeito de São Pedro, Francisco MarcosMoreira, a quantidade nunca foi tão grande porque, alémdas melhorias na lagoa, o ano passado foi o primeiro a ter defesopara reprodução dos animais marinhos.Moreira confirma que,com as chuvas e com o número de moradores quintuplicado, nãohá como tratar todo o esgoto. “As comportas foram abertasdurante dois três dias.” Embora lembre que o incidente estásob investigação, ele acredita que os peixes morrerampor asfixia em decorrência da proliferação dealgas, que competem com os peixes por oxigênio. “Foi o esgoto quecausou isso. A chuva tira a salinidade da água, mas nãomata peixe. Pelo menos não de um dia para o outro”, afirmaMoreira. “O peixe está acostumado com a salinidade do mar,quatro vezes menor que a da lagoa. O problema é que o esgotocinco vezes acima do normal, despejado na lagoa, aumentou o teor defósforo e coliformes fecais que produzem os alimentos paraalgas”.