Luana Lourenço
Enviada Especial
Belém - O sociólogo português Boaventura de Souza Santos convocou hoje (29) oFórum Social Mundial a buscar uma alternativa para a crise mundial sobo risco de o Fórum Econômico de Davos apresentá-la antes. Doutor emsociologia do direito pela Universidade de Yale, professor titular daUniversidade de Coimbra, Boaventura sugeriu uma aliança entre os movimentossociais e a mudança radical e imediata da forma de exploração dosrecursos naturais. “Se não dermos a solução, ela virá de Davos,com mais capitalismo e menos direitos. São eles que estão a pensar umasolução. Nos reunimos [no Fórum Social Mundial] desde 2001 e não fomosnós que derrotamos o neoliberalismo, ele cometeu suicídio. Eles estãolá [em Davos] pensando o que vai ser o capitalismo depois da crise. Enós, o que estamos fazendo?”, questionou. Polêmico, durante a apresentação,Boaventura defendeu que o FSM proponha o fim do Banco Mundial e do FundoMonetário Internacional (FMI), que segundo ele, erraram comoinstituições, quebraram alguns países e não tiveram que pagarindenizações. Para o sociológo,a resposta aos desafios da crise passa obrigatoriamente por um novoparadigma econômico social, que ele chamou de suma causa. “É oconceito indígena de desenvolvimento, de viver bem, em harmonia. E nãosão utopias, esses conceitos estão hoje na Constituição da Bolívia e doEquador”, apontou. Segundo ele, “novos conceitos” estãosurgindo na América Latina, e o Brasil tem que ficar atento às mudanças,principalmente em relação à exploração dos recursos naturais e o uso daterra. “Não há desenvolvimento sustentável com a monocultura de soja,não há desenvolvimento sustentável com o agronegócio, não hádesenvolvimento sustentável com o agrocombustível. Temos que abandonara idéia de que podemos explorar a natureza, temos que levar a sério aidéia do ecossocialismo”, afirmou.Para uma platéia de sindicalistas, Boaventuradefendeu mais integração entre os movimentos sociais brasileiros parapressionar o poder público por soluções. “Os povos tradicionais não sãoobstáculos ao desenvolvimento. Eles têm que ser trazidos para a luta devocês e vocês tem que se integrar à luta deles. Juntem-se, não sedistraiam.”Amigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva,Boaventura não poupou críticas à política de estímulo à produção debiocombustíveis do governo brasileiro.“É um crime o Lula ir àÁfrica dizer que o agrocombustível é uma solução para aquelecontinente. Não é. Sou amigo dele e apoiador desse governo, mas nãoposso ficar calado diante desse tipo de comportamento neoliberal e atécolonialista.”