Boff defende modelos econômicos diferentes para cada região

23/01/2009 - 18h57

Juliana Cézar Nunes
Repórter da Rádio Nacional da Amazônia
Belém - Nasemana que antecede o 9º Fórum Social Mundial, em Belém (PA), um dosidealizadores do encontro tem atraído as atenções de militantes ejornalistas que já chegaram para os eventos paralelos. O teólogoLeonardo Boff, que participa do 3º Fórum Mundial de Teologia eLibertação, caminha sempre acompanhado por curiosos e seguidores, quepedem autógrafos e fotos. A cada palestra, muitos aplausos e emoção.Boffacredita que o Fórum Social Mundial ocorre este ano em um momentoespecial, no qual ficou comprovado o fracasso do sistema neoliberal eem que a eleição de Barack Obama para a presidência dos Estados Unidosmostra que outro mundo é efetivamente possível.“Precisamosbuscar saída na economia plural”, alerta o teólogo, para quem a novaeconomia vai se opor ao globalismo e será cada vez mais ligada àprodução regional e à reciclagem de materiais. “Cada região precisa deum modelo econômico diferente. A Amazônia é uma delas. Chico Mendesqueria o desenvolvimento da Amazônia, mas baseado no extrativismo.”Para Boff, durante o Fórum Social Mundial, o Brasil teráque reduzir o nível de “arrogância” e aceitar que outras organizações epaíses opinem na construção de um plano para o futuro da Amazônia. “Maisimportante agora é que o governo brasileiro aproveite o fórum pararetomar o diálogo com os movimentos sociais, com as comunidadesindígenas e tradicionais. O governo precisa ouvir as críticas sobre asgrandes obras, como hidrelétricas e a transposição do São Francisco. Sãoos ribeirinhos e os indígenas que sabem o que prejudica aAmazônia, o Cerrado e a natureza como um todo.”Aos 70 anos,Leonardo Boff foi um dos idealizadores da Teologia da Libertação, queentre as décadas de 60 e 70 estimulou a ação de religiosos em defesados pobres. Críticas à Igreja e a defesa da visão política marxistaforam utilizadas como justificativa para a expulsão de Boff da OrdemFranciscana, em 1992, em um processo escrito pelo atual papa, JosephRatzinger, então responsável pela Congregação da Doutrina e da Fé. “Elemantém a linha teológica, mantém a Igreja voltada para si mesma”,critica o teólogo brasileiro. “Ratzinger persiste em um projetopastoral voltado para evangelizar a Europa e dar um rosto cristão aoprocesso de globalização. Precisamos reduzir os abismos com outrasreligiões e culturas, em vez de acentuá-los.”Para Boff, osteólogos da libertação têm o desafio hoje de perceber que não apenas ospobres são oprimidos e precisam de ajuda, mas a Terra como um todo. “Ascrises fazem com que os seres humanos se articulem para enfrentar ascrises. E precisamos nos unir sob a perspectiva da fé e da sacralidadeda vida.”