Desaquecimento da economia pode aumentar efeitos da crise sobre o comércio

28/12/2008 - 17h23

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O comércio brasileiro aindaestá em situação favorável, mesmo com acrise financeira internacional, segundo avaliação dochefe da Divisão Econômica da ConfederaçãoNacional do Comércio (CNC) e ex-presidente do Banco Central,Carlos Thadeu de Freitas. Segundo ele, as vendas nofinal do ano, sazonalmente, são sempre muito boas, devido afatores como o 13º salário e as festas de fim de ano. O economista observouque alguns bens de consumo, como carros, tiveram queda nas vendas emoutubro, mas disse que já está havendo recuperação.“E o comércio é o último setor da economia aser atingido, se houver uma desaceleração mais forte”,destacou Thadeu. O momento é de desaceleração emalgumas áreas da indústria, que estão diminuindo aprodução. No comércio,entretanto, isso não aconteceu. Carlos Thadeu de Freitas disse que o ritmo no setorainda é satisfatório, porque o nível de renda ede crédito no Brasil está bastante positivo. Eleestima, entretanto, que em 2009 os efeitos da crise nocomércio poderão ser mais fortes, se a economia continuar desaquecendo. Já o crédito ao consumidor ficou mais caro este ano, embora sejaencontrado com facilidade, ao contrário do ocorre com algumasempresas. Thadeu acredita que nopróximo ano a venda de bens de consumo duráveis devedesacelerar um pouco, mas ressalta que os semi-duráveis e os não-duráveiscontinuarão bem. “E grande parte do comércio hoje ébens de consumo não-duráveis”. Para ele, tudo leva acrer que em 2008 o comércio crescerá 9,5%. Para 2009, aprevisão é de 6%.O economista consideroucorreta a redução do Imposto sobre ProdutosIndustrializados (IPI), medida que, segundo ele, já estácontribuindo para manter o nível de venda de automóveis.“É uma medida correta. O governo está simplesmentebaixando a carga tributária, o que já devia ter feitohá mais tempo”, afirmou. Thadeu alertou, no entanto, queninguém qual é a profundidade, nem a duraçãoda crise externa. E ressaltou que, se a crise se aprofundar nosEstados Unidos, o Brasil exportará menos e sofrerámaiores conseqüências. Quanto ao créditopara o comércio, Thadeu destacou que os bancos precisamreduzir o spread (diferença entre as taxas pagas pelosbancos para adquirir recursos e as que cobram de seus clientes).“O spread bancário do Brasil é um dos maioresdo mundo. Se não for o maior.” Para reduzir o spread,ele sugere a diminuiçãoda carga tributária sobre a intermediaçãofinanceira, o que começou a ser feito com a reduçãodo Imposto sobre Operação Financeira (IOF), e que ospróprios bancos o reduzam. “Não há razãopara eles [bancos] cobrarem spread tão altoassim, porque a inadimplência no Brasil é uma das maisbaixas hoje. E o endividamento não é tãoelevado, como ocorre em outros países”. Ele sugere tambémque o Banco Central baixe o recolhimento compulsório, “porquenão tem sentido deixar esse dinheiro guardado em seus cofres,quando pode deixar com os bancos, e eles têm que emprestar.”Para levar os bancos a emprestarem mais, o economista disse que oBanco Central terá de tomar medidas de cunho mais operacional.