Movimentos sociais do Mercosul querem apoio à decisão do Equador de auditar dívida

15/12/2008 - 5h25

Mylena Fiori
Enviada Especial
Salvador - A sociedade civil organizada sul-americana pedirá aos chefes de Estado da região que apóiem a decisão do Equador de auditar sua dívidaexterna. O consenso foi obtido após dois dias de debates entre os cercade 500 representantes de movimentos sociais que participaram da Cúpula dosPovos do Sul, encerrada nesse domingo (14) em Salvador (BA). Odocumento manifesta apoio a todas as iniciativas de auditoria dedívidas ilegítimas – como pretendem fazer, a exemplo do Equador,Venezuela, Paraguai e Bolívia. Não cita, no entanto, a decisão dogoverno equatoriano de não pagar empréstimo do Banco Nacional deDesenvolvimento Econômico e Social (BNDES) referente à construção daHidrelétrica San Francisco.“Vemoscom satisfação que na região está se impulsionando a autonomia, ofortalecimento dos mercados internos, o abandono do dólar comoreferência nas trocas internacionais, a dotação de capacidadefinanceira própria e a revisão de esquemas ilegítimos de endividamento,como ilustra o caso da auditoria no Equador”, diz o documento que serálevado amanhã à Cúpula Social – instância institucional de diálogoentre governos e sociedade civil do Mercosul e Estados associados. Osmovimentos sociais fazem ainda um chamamento aos governos da regiãopara que busquem soluções, “dentro dos marcos da justiça e dasolidariedade”, para a demanda do povo paraguaio de renegociação dostratados da Hidrelétrica Binacional de Itaipu e da Usina Yuciretá, nafronteira entre Paraguai e Argentina. Ainda adverte sobre o perigo dapresença da 4ª Frota dos Estados Unidos na região e pede a retirada demilitares estrangeiros do Haiti – o contingente integra a Missão dasNações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), da qual oBrasil faz parte. Adeclaração final da Cúpula dos Povos solicita também a plenareintegração de Cuba à comunidade latino-americana e caribenha (Cubafoi excluída da Organização dos Estados Americanos (OEA) em 1962, poucodepois da revolução), o fim do bloqueio econômico imposto à ilha pelogoverno norte-americano e a libertação dos cinco cubanos presos "injustamente" nos Estados Unidos, acusados de espionagem.Odocumento, de cinco páginas, também defende a integração como remédiocontra a crise financeira mundial e pede a alteração do modeloprodutivo com aprofundamento da reforma agrária, a soberania dos paísessobre seus bens naturais e suas fontes energéticas e o livre fluxo depessoas, não apenas de bens e mercadorias.Os movimentos sociais ainda estão se articulando na tentativa de apresentar suas demandas aos 33 presidentes que participarão da Cúpula da América Latina e do Caribe sobre Integração e Desenvolvimento (Calc), amanhã (16) e quarta-feira (17) na Costa do Sauípe (BA).ACúpula dos Povos ocorre simultaneamente à Cúpula de Chefes deEstado do Mercosul e reúne apenas movimentos sociais do países do bloco edos Estados associados. Já a Cúpula Social reúne representantes dasociedade civil e dos governos. O modelo da Cúpula Social nasceu em Córdoba, na Argentina, em julho de 2006, durante o 1º Encontro por um Mercosul Produtivo e Social.