Zoneamento do Vale do Itajaí poderia ter evitado tragédia, diz especialista

05/12/2008 - 23h41

Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Um diagnóstico sócio-ambiental eo conseqüente zoneamento da região, inseridosnos planos diretores dos municípios catarinenses, poderiamter evitado a tragédia vivida pelo estado nas duas últimassemanas. A avaliação é da coordenadora doPrograma de Mestrado Profissional em Gestão de PolíticasPúblicas da Universidade do Vale do Itajaí (Univali),Adriana Rossetto.“Mesmo com mecanismosde monitoramento e de alerta, é uma tragédia queocorreu depois de quantos dias de chuva e sabendo que haveria umamaré alta? Teve essa proporção porque houvevários fenômenos climáticos que ocorreram aomesmo tempo, mas o poder público não estava preparado.Achamos que a tecnologia resolve tudo e a gente vai se descuidando. Aprevenção é uma coisa que não aparecepoliticamente e isso é uma grande falha dos nossos gestores”,afirmou.Em entrevista aoprograma Revista Brasil, da Rádio Nacional, Adrianadestacou que o momento atual é de “correr atrás”por meio de ações paliativas que resolvam o caosprovocado pelas enchentes e pelos deslizamentos de terra no Vale do Itajaí.Mas, segundo ela, um trabalho paralelo, com açõespreventivas, também precisa ser pensado. “O longo prazo émais importante do que o curto prazo”, disse.“A reconstruçãonão é fácil, ainda mais por ser uma tragédiaem uma escala muito maior do que as que a gente comumente tempresenciado. Nesse momento, o poder público tem um papel muitoimportante, assim como a sociedade. Temos que assumir toda a nossaparcela de responsabilidade. Não adianta a gente fazer algumasobras imediatas e achar que está tudo resolvido”, explicouela.Para Adriana, uma dasmedidas imediatas precisa ser o diagnóstico e o zoneamentosócio-ambientais, ou seja, uma radiografia da regiãoque inclua a aptidão do solo após o período detemporais intensos. O objetivo, de acordo com a especialista, édefinir quais os pontos são apropriados para a urbanizaçãoe para a instalação de lavouras, por exemplo.“Tudo isso interferena composição do solo e acaba, no somatório,trazendo características desfavoráveis”, afirmou.Segundo ela, a identificação de áreas ondepoderão ser realocados os quase 33 mil desabrigados e desalojadostambém deve ser prioridade, uma vez que existem diversasregiões do estado evacuadas e para as quais os moradores nãopoderão retornar. Adriana cita, ainda, ofornecimento de recursos e de crédito por parte do governofederal e estadual para obras de infra-estrutura e para arecomposição do setor empresarial de Santa Catarina.“Sem esse diagnóstico, é impossível que setome decisões acertadas”, destacou.“Se a gente forcomeçar a buscar a causa para a tragédia, vamosretroagir muito, desde modelos econômicos que se adotam parao crescimento até as escolhas que se fazem. A gente acha quedesenvolver é só crescer economicamente, quando, naverdade, existe uma série de questões que vãosendo reprimidas. Os gestores, na maioria, são imediatistas,não pensam em uma escala de longo prazo. Com certeza, houvequestões que não foram observadas e isso existe empraticamente todas as gestões públicas no Brasil”,alertou Adriana.