Embaixador defende que Brasil assuma liderança na América Latina diante da crise

06/12/2008 - 9h50

Vladimir Platonow
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O Brasil vai se beneficiar da crise mundial e deveria fazer um novo Plano Marshall para a América Latina, nos moldes do investimento bilionário dos Estados Unidos na reconstrução da Europa no período pós-guerra.A opinião é do embaixador Jeronimo Moscardo, presidente da Fundação Alexandre de Gusmão (Funag), ligada ao Ministério das Relações Exteriores (MRE). Ele vai coordenar o encontro “O Brasil no mundo que vem aí”, reunindo diversos pensadores e estudiosos de relações internacionais, na próxima segunda (8) e na terça-feira (9), no Rio de Janeiro.Para o embaixador, que já representou o Brasil na Romênia, na Bélgica e na França, o Brasil tem diversas características que o colocam em vantagem em relação a outros países, no enfrentamento da crise econômica mundial.“Essas crises nos beneficiam. O Brasil ‘escorrega’ para frente. Nós somos os reis dos combustíveis alternativos, a ‘Arábia Saudita’ da água, o celeiro do mundo. Pelas nossas dimensões, qualquer que seja a solução para a crise, o Brasil estará valorizado”, afirmou.Segundo Moscardo, o país tem tudo para sair ganhando, como aconteceu na Segunda Guerra Mundial, pois as crises servem para mudança de patamar. E, justamente esta elevação do país é que pode estar criando atritos com os países latino-americanos, como aconteceu recentemente com o Equador, que está auditando empréstimos recebidos do Brasil.“Nossa política regional está sendo bem-sucedida. O problema é que estamos mudando de patamar. A nossa agenda hoje é diferente. Como estamos em um processo de maior prosperidade, se abriu um espaço grande com os nossos vizinhos. E nós realmente temos que cuidar dessas disparidades, como cuidamos das diferenças interiores no país. Nossos vizinhos são hoje o nosso Nordeste”, exemplificou Moscardo.Ele destacou que o Brasil tem a balança comercial superavitária e superior à dos outros países da região e, invariavelmente,  enfrenta, diante das disparidades econômicas, tensões diplomáticas. “Isso reflete a necessidade do Brasil se reeducar. Temos que nos comportar pensando nas nossas responsabilidades. Fazer integração não é eliminar todos os problemas. O desenvolvimento é que resolve as coisas”, afirmou.Para o embaixador, a responsabilidade do país é grande com os vizinhos, mas o Brasil não deve se portar como uma nação imperialista. “É necessário uma parceria. Nós temos que fazer um Plano Marshall para a região, o que foi muito inteligente na Europa, através de uma parceria com os Estados Unidos. Todos podemos ganhar trabalhando juntos. O Brasil não precisa dominar ninguém”, propôs Moscardo.Ele considerou o recente atrito com o Equador como um “pequeno acidente de percuso”. “São ruídos que estão sendo magnificados. Nossa relação com o Equador é muito sadia. Vamos encontrar um caminho para seguirmos juntos. Em breve teremos condição de negociar harmonicamente”, disse o diplomata.Segundo ele, existem interesses contrários a que o Brasil realize a integração da América do Sul. “Naturalmente. A política se realiza é num campo de força. Com este novo desenvolvimento e pujança do Brasil, isto acaba criando adversários. Há interesses de fora que ficam muito alegres quando alguma coisa dá errado”.Informações e documentos sobre o encontro podem ser obtidos no site do evento: www.funag.gov.br