Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Além de 65 mortos e dos mais de 52 mildesabrigados e desalojados, o estado de Santa Catarina tem ainda 30 pessoas desaparecidas,sobretudo por conta dos deslizamentos de terra na região. Entretanto, o número, de acordo com o major Márcio Luiz Alves,diretor estadual de Defesa Civil estadual, está “aquémda realidade”.
“Nãoé nenhum pessimismo. Há famílias soterradas sobre as quais não temos nem notícias. Esses desaparecidos [30,oficialmente] são fruto de pessoas que nos informaram.Quantos são os soterrados que ninguém sobrou da famíliaou as pessoas que estão sem comunicação? Éuma situação desesperadora”, afirmou, em entrevistaao programa Revista Brasil, da Rádio Nacional.
Alvesdestacou que o clima no estado “começa a ficar favorável”,uma vez que as chuvas, apesar de não terem cessado ainda,seguem mais fracas. O nível do Rio Itajaí-Açu,que chegou a atingir 12 metros acima do normal, baixou para 8 metrosacima – faixa, segundo o major, considerada fora da cota de alerta.
“Asituação ainda é crítica porque temosdiversas áreas isoladas e muitas pessoas soterradas edesaparecidas. Temos em um parque aquático 600 pessoas,entre crianças, jovens e idosos, que estão isoladosdesde sexta-feira, com dificuldades de alimentação emedicação. Ontem (24), chegamos ao local comhelicóptero, levamos médicos e alimentaçãoe mandamos um coordenador para que consiga controlar essas pessoas que não quererem, de qualquer forma, sair, porque seriamuito perigoso.”
De acordocom Alves, os deslizamentos de terra continuam na região e osdesabamentos devem seguir por pelo menos mais dez dias. Ele avaliouque as encostas parecem “sorvete”, uma vez que se desmancham atodo momento. Algo que Alves, em 17 anos de carreira na DefesaCivil de Santa Catarina, afirma jamais ter visto.
“Nossamaior preocupação não são mais as águas,mas os deslizamentos. Dez dias é o que nós imaginamosque o solo ainda estará instável e possa provocardeslocamentos. Estamos recebendo especialistas em geologia, pessoasrenomadas, para que nos dêem um aporte de tecnologia e umaavaliação adequada de segurança.”
Elelembrou que foi instalado um centro de comando aéreo nomunicípio de Navegantes, que conta com um total de 14aeronaves. “Temos médicos, alimentos e água. O problemaé como fazer para chegar [nas áreas atingidas].” Alves afirmou que a DefesaCivil local já tentou acesso às comunidades isoladasaté mesmo por meio de carros-anfíbios e de tanques deguerra de propriedade do Exército brasileiro, mas não teve sucesso.
“Oalerta foi feito no momento certo, as questões meteorológicastêm sido acompanhadas. Não era previsível, porqueo problema foi de deslizamento, uma situação que nãoé comum para Santa Catarina. No universo de mortes, apenas umapessoa morreu afogada, no município de Bom Jardim da Serra. Osoutros morreram soterrados. O desastre principal aqui não sãoas enchentes, são os deslizamentos, o colapso total dasencostas do Vale do Itajaí, algo, para nós, inédito.”
Diante daproximidade do recesso de fim de ano e das férias coletivas emjaneiro, o major alertou turistas de todo o país que nãovisitem Santa Catarina pelo menos nos próximos dez dias –sobretudo, o litoral, região mais castigada pelos temporais.Mas, segundo ele, o estado estará pronto para recebervisitantes no verão.
“O governo federal jásinalizou com recursos para que isso ocorra. Pedimos aosnossos turistas que, nos próximos dias, não venham aSanta Catarina. E, se precisarmos de mais dez dias, vamos pedir. Éuma questão de responsabilidade.”