Famílias Góes e Capiberibe continuarão dominando política no Amapá, diz analista

27/10/2008 - 22h05

Alex Rodrigues
Enviado Especial
Macapá - A vitória de Roberto Góes (PDT) na disputa pela prefeitura de Macapá (AP) consolida seu tio, o governador Waldez Góes (PDT), como uma das principais lideranças políticas do estado. A derrota de Camilo Capiberibe (PSB), no entanto, não torna desprezível a força eleitoral de sua família. Para o cientista político Raimundo Lima Brito, as duas famílias continuarão sendo peças decisivas, no Amapá, nas eleições de 2010, quando serão escolhidos os novos governadores, deputados e senadores.

“O resultado de ontem (26) consolida a liderança do governador. Entretanto, há ainda uma manifestação muito grande em prol da família Capiberibe. Esse é o cenário que irá amadurecer para as eleições majoritárias, requerendo uma habilidade muito grande dessas duas forças junto às suas militâncias”, avaliou Brito, que dá aulas na Universidade Federal do Pará.

Para Brito, a expressão de que o “PSB é coisa do passado”, dita por Roberto Góes em sua primeira entrevista após eleito, é um exagero que deve ser atribuído à euforia da vitória. “Me reservo o direito de analisar de outra forma. A diferença de menos de seis mil votos, em uma capital, deve preocupar a quem pretende disputar uma eleição majoritária. No interior, a família Capiberibe tem eleitores fiéis”. De um total de 177.217 votos válidos, a diferença entre Góes e Capiberibe foi de 5.899 votos, ou 3.32%.

Para o cientista político, foi justamente a fidelidade dos eleitores aos Capiberibes e a Waldez Góes que proporcionou que PSB e PDT colocassem em xeque partidos como o PT, do atual prefeito João Henrique Pimentel, e o PMDB, do senador José Sarney.

“A projeção do PSB e do PDT no estado se deve à correlação de forças dos grupos políticos liderados pela família Capiberibe e pela família Góes. São partidos de pequeno ou médio porte, mas que congregam uma série de forças dinâmicas da sociedade civil amapaense. E essa será uma dinâmica que se repetirá nas eleições para o governo do estado, em 2010”, avaliou Brito.

O cientista político considera que após ver seu sobrinho ser eleito graças ao seu apoio e ao de parlamentares que se uniram ao PDT, Waldez deverá tentar uma vaga no Senado. E tentar eleger o atual presidente da Assembléia Legislativa Estadual, deputado Jorge Amanajás (PSDB), como seu sucessor à frente do governo estadual. A esposa de Waldez, Marília Xavier Góes, deve se candidatar ao cargo de deputada estadual.

O cientista político considera ainda negativo o alinhamento partidário entre o futuro prefeito e o governador. “Acho preocupante, pois deixa de existir uma correlação de forças ideológicas”.

Ele disse também que, no campo das propostas, os projetos de governo de ambos os candidatos eram muito semelhantes. “Durante os debates, os dois mostraram as mesmas fragilidades ao não conseguir traduzir, verbalizar, suas propostas. Apesar de ambas as propostas serem muito boas e aplicáveis, elas também eram muito semelhantes e acabaram parecendo inócuas”.

Brito, contudo, considera que se Camilo Capiberibe tivesse ganho a eleição também acabaria se aproximando de Waldez Góes. Segundo ele, essa “aproximação” é uma característica da história política amapaense, mesmo quando o município e estado são administrados por partidos diferentes. “A disputa costuma se acirrar durante os pleitos. Depois, sempre ocorre uma convergência de interesses”.

Para Brito, a participação política da sociedade é a única maneira de evitar que o poder público, em qualquer situação, sirva a apenas determinados grupos políticos. “O ativismo social serve como instrumento de pressão. Serve para cobrar que os governos atendam às demandas dos segmentos que se sentem excluídos do processo de cidadania”.