Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Os países pobres já estavam “marginalizados”antes da desestabilização dos mercados internacionais e, na nova conjuntura, ficarão ainda mais – uma vezque se inserem na economia mundial como simples exportadores dematérias primas, com investimentos estrangeiros exatamente naexploração desses recursos.
A avaliação foi feita hoje (27) pelo professor doDepartamento de Ciências Econômicas da UniversidadeFederal de Minas Gerais (UFMG), Clélio Campolina, ao comentar os reflexos da crise financeira mundial.
“A crise mundial também afetará os paísespobres, mas a esperança é que, em uma retomada dosistema – e a gente tem que esperar que ele retome – isso se façaem novos padrões de organização da economiamundial que possam, de certa forma, reconhecer o direito políticodesses países de ter algum tipo de apoio”.
Em entrevista ao programa Revista Brasil, da RádioNacional, Campolina reforçou que o alcance da atual crisefinanceira é maior do que o de qualquer crise precedente, jáque a economia mundial está extremamente integrada. O impacto,segundo ele, será generalizado e os efeitos serão emcadeia. De acordo com o especialista, à medida que aumenta o peso do comérciointernacional, das relações internacionais e daintegração do sistema financeiro internacional, tocarem qualquer um dos “pontos de relevância”, “contamina” o restante do sistema.
Ele negou que a decisão do passado de globalizar a economiamundial possa ser considerada um equívoco e acrescentou que as mudanças tecnológicas da épocaapontavam para uma integração crescente. Para Campolina, o problemavivenciado pelo neoliberalismo na atualidade é que os grandes países “relaxaram” na atuaçãodo Estado na economia.
“O sistema terá que estabelecer novos mecanismos deregulação mundial e não será mais sob aliderança de um único país, como foi o caso dosEstados Unidos [depois da ] Segunda Guerra Mundial. As forçaseconômicas que se reconstroem seguramente vão levar àformação de um sistema multipolar de poder, o que ébom porque dá mais estabilidade, mais solidariedade e um poucomais de cuidado e juízo na tomada de decisões”.
Para o economista, o Brasil será “indiscutivelmente”afetado pela crise, mas ele considera que a atual posiçãointernacional em que se encontra o país é“relativamente confortável”, diante de uma certaestabilidade institucional e política que permite a busca decaminhos “de maneira mais racional”.
“Nossa fonte de US$ 200 bilhões [de reservas internacionais] não éinesgotável, mas os bancos brasileiros estão em umasituação relativamente sólida. Pela perversidadeda nossa dívida interna, os bancos brasileiros são,hoje, os grande detentores de títulos da dívida interna– não estão no mercado privado de títulos, oque aconteceu com os bancos norte-americanos e europeus".
Campolina afirmou que nãohá um risco exagerado de corrida de estrangeiros tirandodinheiro do Brasil, o dinheiro não tem muito para onde ir. "Ooutro lado do mundo está pior do que a gente. Os detentores decapitais internacionais vão pensar duas vezes antes derepatriar dinheiro. Como a situação do vizinho épior do que a nossa, temos uma situação de relativoconforto”.