Embaixador admite resistência de haitianos à presença de tropas

14/10/2008 - 21h06

Ana Luiza Zenker
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O embaixador brasileiro em Porto Príncipe, Igor Kipman, admite que existe resistência de parte da população haitiana à presença dos militares estrangeiros, apesar de reafirmar que as tropas da Missão das Nações Unidas para aEstabilização do Haiti (Minustah) estão no país a convite do governo do país. “A resistência existe há 204 anos, desde a independência, sempre existiu e vai continuar existindo, e é um grupo que representa uma parcela da sociedade haitiana que resiste a qualquer presença estrangeira, a tudo o que é de fora do Haiti”, diz o embaixador.Ele explica que esse sentimento está no consciente coletivo da população devido às sucessivas intervenções externas ao longo da história do país, desde quando era colônia e também depois da sua independência, em 1804.“O Haiti foi condenado por todos os países, principalmente por aqueles que tinham em sua sociedade o instituto da escravatura, porque todos tiveram receio de que a revolução dos escravos aqui se propagasse e atingisse esses países, então isolaram o Haiti, bloquearam, fizeram todo o possível para que o Haiti não desse certo, isso por décadas, não só de fora, como tentaram invadir e retomar o Haiti ou restaurar a estrutura social pré-revolução”, diz.Hoje (14), o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) decidiu estender o mandato da Minustah até meados de outubro de 2009.Entre os setores que se posicionam contrários à presença das tropas, Kipman cita setores da Igreja Católica e o partido Kombat. O embaixador ressalta que o presidente René Prèval, por mais que reconheça a necessidade da presença da Minustah, “compartilha, no seu íntimo, o mesmo sentimento dos outros 9,5 milhões de haitianos”.Na visão do embaixador, apesar disso, os brasileiros são melhor vistos e recebem maior apoio da sociedade do país caribenho do que, por exemplo, os soldados dos Estados Unidos e da França, que também já estiveram no Haiti. Isso pode ser explicado por uma mudança de paradigma de missão de paz que o Brasil está propondo para o Haiti.Ele conta que em 2004, por ocasião do Jogo da Paz, entre as seleções brasileira e haitiana, em entrevista a um repórter alemão, ele comparou os paradigmas brasileiro e norte-americano ao futebol e o futebol americano, respectivamente.“O futebol americano consiste em violência e vitória, se resume em poucas palavras a isso, e o nosso se resume a dança, alegria, música, confraternização.""As operações de paz conduzidas pelos Estados Unidos são mais ou menos isso, violência e vitória, e as nossas, o que a gente estava propondo e que quatro anos depois eu posso dizer que estamos realizando, é uma outra, e é esse paradigma de desenvolvimento do país, revitalização das instituições e reconstituição do tecido da sociedade”, resumiu.