Lúcia Norcio
Repórter da Agência Brasil
Curitiba - O Paraná, maiorprodutor de grãos do país e responsável por 21%da produção nacional, pode ter a safra 2008/2009comprometida devido à crise financeira internacional, naavaliação da Federação da Agricultura doestado (Faep). Pela última estimativa de safra do Instituto Brasileirode Geografia e Estatística (IBGE), o Paraná iria colher 31,54 milhões de toneladas, a maior safra dahistória do estado.Entretanto, segundo oassessor da presidência da Faep, Carlos AugustoAlbuquerque, no plantio desta safra, que começou em setembro,houve restrições na tecnologia utilizada devido aoaumento nos preços, principalmente, dos insumos, da ordem de30%. Já o crédito ficou praticamente do mesmo tamanho.Isso, segundo ele, obrigou o produtor a usar menos tecnologia ou diminuir a área de plantio ou, ainda, a buscar recursos onerososde outras fontes. “O socorro financeiro acenado pelo governo estáchegando tarde e não é do tamanho que a crise exige”, disse."Se as duas últimassafras foram boas, as quatro anteriores foram frustradas pelascondições climáticas", lembrou Albuquerque. Essa realidade levou o governo a renegociar dívidas que muitosagricultores ainda não quitaram.A previsão da Faep é contestada pela Organizaçãodas Cooperativas do Paraná (Ocepar), que reuniu hoje (14), emCuritiba, presidentes de cooperativasagropecuárias e de crédito de todo o estado, para discutir a crise. Deacordo com o presidente da Ocepar, JoãoPaulo Koslovski, embora o agricultor tenha plantando com custo maior,em função do aumento do preço do fertilizante,ainda é cedo para diagnósticos pessimistas. “Todas as análises da economia mostram que o último setor a serafetado pela crise é sempre o agrícola, porquealimento sempre tem demanda”, observou .Segundo Koslovski,o agricultor tem a seu favor, no momento, boas condições climáticase a área de plantio é a mesma da safra anterior. Se houver redução, ele acredita que ficará abaixodos 5%, o que considera insignificante.Para o presidente da Ocepar, o agricultor vive um bom momento em relação aoúnico produto que tem para comercializar na entressafra, queé o trigo. “O Paraná é o maior produtor,responde por 50% do total nacional, e tem um trigo de qualidade ótima,que poderá ser exportado se o dólar apresentar umaparidade em relação aos preços internos”, prevê.Koslovski defendeu a manutenção de linhas especiais de créditopara dar suporte àcomercialização da produção agrícola. Segundo ele, o produtor, hoje, está recebendo US$480 dólares a tonelada, preço acima do mínimo.“O que o governo tem que manter, neste momento de crise, sãoos chamados recursos de giro. Não permitir que osbancos deixem parados como aval de segurança, os R$ 100bilhões de depósitos que têm em caixa. Destinemestes recursos para renovação e novos financiamentos”, ressaltou.Na opinião dopresidente da cooperativa Agro-Industrial de Rolandia (Carol), Eliseude Paula, o único temor dos produtores é que os paísesconsumidores entrem em recessão e deixem de comprar. “A altado dólar por enquanto só trouxe mais reais para o nossobolso. Estamos em vantagem, sabemos plantar, produzir e, no campo, acrise costuma chegar bem depois e ir embora bem rápido, nemdá para sentir”, observou.O economista-chefe doBanco do Brasil, Uilson Melo Araújo, ao falar sobre osimpactos da crise para os representantes de cooperativas paranaenses,disse que o cenário de perda de dinamismo na economia mundialdeve ser revertido em, no máximo, três anos. “Vaiocorrer uma desaceleração, mas o Brasil é um dospaíses mais produtivos do mundo e seu crescimento acontecerá,principalmente, nos setores da agricultura, construçãocivil e comércio exterior". Ele demonstrou otimismo emrelação às medidas de liberação do recolhimento do compulsórioaos. "Estamos tendo problemas de liquidez, mas emnenhum momento falamos de insolvência", destacou em relação ao setor.Segundo o economista, o país deu passos fundamentais na condução daspolíticas macroeconômicas. "Nossas instituiçõesestão fortes e não há espaço no Brasilpara medidas populistas."