Injeção de recursos dos compulsórios é pouco para acalmar mercado, avalia economista

14/10/2008 - 20h30

Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A liberação pelo Banco Central do recolhimento de depósitos compulsórios não será suficiente para devolver confiança ao mercado. A avaliação é do economista Fernando Cardim, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e especialista em mercado financeiro. “O Banco Central espera neutralizar um fenômeno quase universal, que é a crise de confiança. A probabilidade de sucesso não é muito grande", diz.Segundo ele, o temor generalizado é resultado da quebradeira de diversas instituições financeiras e demonstração de fragilidade de outras. Com isso, os bancos não sabem para quem podem emprestar e seguram o crédito. “Aqui no Brasil também muitas instituições, especialmente os bancos médios e menores, começaram a ter dificuldade para conseguir recursos, ninguém quer emprestar a um banco médio”, analisa.A liberação de compulsórios visa, justamente, estimular o empréstimo dos grandes bancos a essas instituições menores. Cardim lembra que a mesma estratégia foi adotada na crise bancária de 1996, quando fecharam os bancos Nacional e Econômico e o governo federal lançou o Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer). As medidas adotadas capitalizaram os bancos, mas não devolveram liquidez ao mercado. “Surgiu o que era chamado de empossamento de liquidez, o Banco Central libera recursos, mas os bancos não emprestam. É possível que se repita isso e os bancos simplesmente aproveitem o compulsório e mantenham o crédito parado, efetivamente”, pondera. Ele ressalta que os bancos brasileiros não fizeram aplicações em ativos podres, como os americanos e europeus - como as taxas de juros no Brasil sempre são muito altas, nosso sistema bancário tende a aplicar dinheiro aqui mesmo, especialmente em dívida pública e papéis do tesouro brasileiro. Por isso, o risco de um colapso no sistema financeiro, em tese, é muito menor. Há, no entanto, uma disseminação do medo. “Aqui esse tipo de crise está ocorrendo, fundamentalmente, por imitação externa. Mas quando se contamina o ambiente com temores, isso é muito difícil de controlar”, acredita. “Esse medo é irracional, os investidores e as instituições financeiras não pensam, objetivamente, qual a probabilidade de que alguma coisa ocorra. Na dúvida, colocam as barbas de molho”, afirma.Caso a liberação de compulsórios efetivamente não acalme o mercado, o economista sugere que o BC repita aqui a tática do Federal Reserve americano: oferecer empréstimo diretamente a outras instituições ou mesmo empresas com dificuldade para obter recursos.