Associação estuda proposta de reciclagem de veículos sem condições de circular

14/09/2008 - 17h02

Flávia Albuquerque e José Donizete
Repórteres da EBC
São Paulo - Com a retomada da discussão no Congresso Nacional sobre projeto de lei que trata da inspeção técnica veicular, a Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA) retoma também a elaboração de um projeto de reciclagem de veículos considerados fora de linha ou impróprios para circulação. A entidade já vem estudando o assunto há pelo menos cinco anos e a idéia é apresentar a proposta ao governo federal.De acordo com o presidente da entidade, José Edison Parro, o grandeproblema da reciclagem de veículos é que não há empresas especializadasnesse serviço no Brasil. Dessa forma, seria necessário trazer para o paísempresas interessadas em atuar na área. “Seria uma linha dedesmontagem na qual há vários componentes, óleo, plástico, graxa,borracha, então isso tem que ser feito dentro de uma seqüência e umalinha de montagem. Esse é o nosso objetivo, um estudo de engenharialigado a essa parte automotiva.”Parro afirmou que, além dos problemas de ordem técnica, há desafios burocráticos, porque não existe uma regulamentação para o descarte dos veículos fora de linha. Com isso, eles acabam sendo levados para desmanches e depósitos, onde os restos ficam totalmente expostos. "O que queremos fazer é colocar uma ordem nesse assunto e promover essa reciclagem, principalmente em termos ambientais. O nosso grande objetivo é fazer a reciclagem de veículos e não simplesmente destruir o veículo. Nós acreditamos que há uma série de materiais que podem ser reaproveitados.”Segundo ele, não há dados precisos sobre o número de carros sem condições de circular, mas que continuam trafegando nas ruas. “Esse número está sendo bastante discutido. Uns falam em 20, 30% da frota, mas é um número meio duvidoso, então a inserção viria no sentido de colocar uma ordem para evitar acidentes”. Além disso, ele ressaltou que o estado passaria a  arrecadar o que hoje não recebe pelos carros deixam de pagar o Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).O professor de engenharia mecânica da Universidade de São Paulo (USP) Gilmar Batalha afirmou que as próprias fábricas poderiam comprar esses carros, desmontá-los e reaproveitar as peças recicladas desses veículos na linha de produção. Outra alternativa seria as montadoras darem descontos aos proprietários desses veículos para a aquisição de carros novos. “Porque ali está energia, matéria-prima guardada e que não precisaria ser jogada fora, poderia ser reutilizada.”Batalha sugere que a compra de um veículo passe a ser encarada como a aquisição de um serviço de mobilidade que seria usado durante um tempo determinado. Ao término desse prazo, as próprias empresas comprariam o carro para reaproveitar a matéria-prima. “A idéia é a de que a fábrica começasse a acompanhar seu produto, seu serviço de mobilidade do berço ao túmulo, garantindo um ciclo de vida, de modo que se o usuário quiser prolongar esse ciclo ele teria uma despesa a mais.”O professor reforçou que, mesmo que o Brasil seja um país rico em matéria-prima e recursos, existe uma demanda crescente do mercado interno. Para ele, o país deveria seguir o exemplo de nações onde os recursos são mais escassos. Para isso, uma das medidas necessárias seria o fim de cemitérios de carros velhos. “Esses locais são minas de ferro e alumínio e uma fonte de valor agregado. Deixar esse material lá é dinheiro jogado fora. Na medida em que as pessoas associarem valor ao produto e começar a surgir interesse econômico isso não vai ficar jogado fora”.Segundo Gilmar Batalha, paralelamente à implantação da reciclagem dos veículos, uma nova forma de conceber os carros teria de ser elaborada, de modo a usar a cadeia de fornecedores dispostos a trabalhar ecologicamente. “A indústria automobilística brasileira já tem autonomia para conceber seus projetos. A sociedade tem que pegar idéias ecologicamente corretas e transformar em gestão, dar empregos em vários setores”, finalizou.