Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A crise políticaque se perpetua na Bolívia com ações aindamais fortes dos opositores do presidente Evo Morales éresultado da ausência de um Estado nacional moderno no país.A avaliação é do professor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade de Brasília(UnB) José Flávio Saraiva. Ele lembra que a divisãode poderes no país vizinho já pode ser considerada “histórica”,mas que, com o fortalecimento das tensões, a situaçãoestá se tornando “insuportável” para ambos oslados.“De um lado, o podereconômico que quer mais poder político nas partes baixasda Bolívia – que são os departamentos de Santa Cruz,Beni, Pando e Tarija –, que evidentemente querem agregar ao podereconômico que têm mais poder político e umaespécie de autonomismo ou federalismo interno. O outro lado daBolívia é a parte alta, que tem poder político”, disse em entrevista ao programa Notícias da Manhã, da Rádio Nacional.A situaçãopolítica no país vizinho é de insegurança,segundo nota oficial divulgada pelo Parlamento do Mercosul. No dia 10de agosto, a maioria da população boliviana decidiu,por meio de um referendo, mantero governo de Evo Morales e de diversos governadores. Mesmo com aaprovação do povo, grupos de estudantes radicais elíderes de comitês cívicos já realizaramvários protestos e fecharam as fronteiras do departamento deSanta Cruz com o Brasil.Saraiva classifica osembates como uma “luta interna” no país mais pobre daAmérica do Sul em torno do controle do Estado nacional, masnega que as tensões caracterizem uma guerra civil ou mesmo umacirramento definitivo em uma direção ou em outra.“É uma espéciede corda agarrada de um lado por um grupo e do outro por outro grupo,com tensão permanente. Um puxa, o outro solta um pouco, oupuxa mais. Uma tensão cuja resultante não temos aindade forma precisa. Não há analista que possa apresentarum quadro sobre isso. A história da Bolívia é deidas e vindas, de instabilidade, de dificuldades de conclusãode governos.”
Para oespecialista, a possibilidade de um golpe militar no paístambém é remota, sobretudo porque, na avaliação dele, as Forças Armadas, de maneira geral, perderam sua forçahistórica. O professor lembra que, apesar de os militares de esquerdajá terem ocupado diversos palácios latino-americanos,os atores centrais da crise boliviana permanecem sendo os setorespolíticos “bem estruturados e organizados” do país.
“Háuma visão unitarista e centralista da Bolívia de EvoMorales, com uma vontade de ampliação da recuperaçãodo orçamento nacional para projetos distributivos e autilização das receitas do gás e do petróleopara um projeto de maior autonomia política. E, por outrolado, [há] os departamentos que, em alguma medida, querem puxar o Estadopara si”, analisa.