Maria da Conceição Tavares diz que crise não atingiu Brasil porque país não é mais devedor externo

10/09/2008 - 18h40

Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A turbulência externa e a crise em países desenvolvidos não atingiram o Brasil até agora porque o país não é mais devedor público externo, disse hoje (10) a economista Maria da Conceição Tavares. Ela participou de seminário em Brasília em comemoração aos 200 anos do Ministério da Fazenda.Uma das coordenadoras do Plano Cruzado, na década de 1980, Conceição Tavares disse que a erradicação da dívida externa do Estado brasileiro foi um mérito que deve ser reconhecido por economistas de todas as tendências. Segundo ela, desde 2006 o Brasil deixou de ser devedor público externo, tendo mais a receber dos credores externos do que a pagar.Ela citou ainda a inserção do Brasil no comércio mundial como fator que fortaleceu a economia do país. “A prova de que nossa inserção internacional tem sido eficiente é que o Brasil exporta mais, mesmo com o câmbio ruim. Pela primeira vez nos últimos 20 anos, o país está pensando no longo prazo”, destacou.A economista, no entanto, disse que o país precisa se preocupar com o desempenho nas contas externas, que engloba a balança comercial, a diferença entre a renda e os serviços pagos e recebidos do exterior e as remessas de recursos de emigrantes e de entidades estrangeiras. Nos sete primeiros meses do ano, as contas externas registraram o pior resultado desde 1947.“Uma crise fiscal até compromete uma economia, mas crise no balanço de pagamentos é o que quebra um país”, ressaltou. “A última que tivemos foi decorrente das políticas do [ex-presidente] Fernando Henrique Cardoso, embora o Pedro Malan [ministro da Fazenda nos oito anos do governo tucano] não tenha reconhecido isso”, completou, referindo-se ao depoimento gravado de Malan, exibido ontem (9) durante o seminário.Nos oito anos do governo do ex-presidente FHC, segundo Maria da Conceição Tavares, o Brasil importou mais do que exportou e ficou dependente dos investimentos estrangeiros e do capital especulativo, que fugiam em momentos de turbulência internacional. Essa situação ocorreu nas crises do México, em 1995, da Ásia, em 1997, e da Rússia, no ano seguinte. Em 1999, o país foi obrigado a desvalorizar o real por causa da fuga dos investidores internacionais.Para ela, a elevação no preço das commodities (alimentos e minérios com cotação no mercado internacional) foi provocada principalmente pela desvalorização do dólar, não pelos fatores de mercado no petróleo. Ela, porém, afirmou que os Estados Unidos ainda são os principais atores da economia mundial. “Muitos dizem que o dólar morreu, mas é mentira. O euro não se valoriza, o que ocorre é a mudança de patamar do dólar”, disse.A economista concluiu a apresentação pedindo reformas econômicas distintas das medidas propostas pelo neoliberalismo, como a redução do tamanho do Estado. “Sou a favor das reformas, mas não as deles. A primeira, a que está no cerne de toda a questão, é a da terra”, concluiu.