Medicina chinesa mal administrada pode aprofundar o problema, diz especialista

23/08/2008 - 11h41

Mylena Fiori
Enviada especial
Pequim (China) - Aos olhos ocidentais, amedicina chinesa é uma combinação natural deervas e agulhinhas milagrosas. Um tratamento alternativo, utilizadopor curiosidade ou como última tentativa, quando nada mais fazefeito. Se não der resultado, mal não faz! Grande equívoco.Até mesmo oaparentemente inofensivo ginseng, vendido em cápsulasem qualquer farmácia ocidental, não pode ser consumidoindiscriminadamente - pode piorar casos de pressão alta, porexemplo. “Como qualquertratamento mal administrado, a medicina chinesa pode aprofundar oproblema”, alerta o médico Ahmed El Tassa, diretor médicoda Global Doctor na China - rede australiana que tem seis clínicasna China voltadas ao atendimento de estrangeiros. O aviso vale paraaqueles que ainda pensam que medicina chinesa é folclore. O paranaense El Tassase formou em medicina no Rio Grande do Sul, fez especializaçãoem acupuntura no Rio de Janeiro, e veio para a China há 17anos para aprofundar conhecimentos em medicina chinesa. Foi oprimeiro ocidental a ingressar na Universidade de MedicinaTradicional Chinesa de Pequim e o único a se tornar mestre nolivro Medicina Interna do Imperador Amarelo – a mais antigapublicação de medicina do mundo, com três milanos, de autor desconhecido. Para quem acha que medicina chinesa é coisa de “natureba”, ElTassa garante que a formação básica dos médicosé a mesma na China e no Ocidente. A diferençafundamental está na visão do paciente. Para a medicinachinesa, e todas as outras formas de medicina tradicional, corpo,alma e espírito não podem ser dissociados. “A medicina modernasepara o corpo da alma e do espírito. Se você vê oser humano apenas como um corpo, está vendo como umaengrenagem sem vida”, resume. Acreditar nisso nãodepende de fé, mas de lógica, garante o médico.Ele recorda que quando começou a estudar medicina, em 1981,nunca se falou em qualquer relação do cérebrocom o intestino. Isso foi descoberto há pouco tempo pelamedicina moderna, e está lá, descrito há trêsmil anos, no livro de Medicina Interna do Imperador Amarelo. El Tassa conta que amedicina tradicional também era praticada no Ocidente atéo século 18. “A medicina moderna deixou a alma, a psique,para os psicólogos, e o espírito, o intelecto, para osfilósofos”, lamenta. “O objetivo damedicina moderna ocidental é salvar o paciente, enquanto oobjetivo da medicina tradicional é melhorar a qualidade devida dele”, frisa. Ainda assim, o médicorecomenda que, antes de mais nada, o paciente procure umespecialista. “Se ele disser que não tem solução,não acredite e busque um médico que também tenhaformação em medicina chinesa”, aconselha. O mesmo, segundo ele,vale caso o problema volte de forma recorrente após otratamento convencional. “Tem solução para tudo,menos para a morte, que é natural, e para impedir oenvelhecimento”, garante El Tassa. Uma curiosidade:enquanto os ocidentais despertam para a medicina chinesa, oschineses, cada vez mais, preferem a medicina moderna ocidental.Pessoas com mais de 40 anos, com problemas crônicos, aindabuscam a medicina tradicional. Chineses com até 35 anos nempiscam, diz o médico: querem antibiótico, cirurgia ecorticóide.