Caymmi era o último grande cantor da década de 30, diz Gilberto Braga

16/08/2008 - 19h28

Nielmar de Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Com a morte de Dorival Caymmi, o país perdeu o último dos grandes cantores e compositores da década de 30. A afirmação foi feita pelo novelista Gilberto Braga, no Salão Nobre da Câmara dos Vereadores do Rio, onde o corpo de Dorival está sendo velado desde as 16h20.“Com a sua morte, não fica mais nenhum deles vivo. Apesar de a décadade 60 ter sido brilhante do ponto de vista musical, a de 30 é o apogeuda música popular brasileira, com Ari Barroso, Noel Rosa, o próprioDorival e muitos outros”.Braga lembrouo fato de que, em sua última novela, escolheu uma música de DorivalCaymmi como tema de abertura. “Tenhoorgulho grande de ter escolhido Sábado em Copacabana para a aberturade ‘Paraíso Tropical’. Foi uma forma de homenagear o amor queCaymmi tinha por Copacabana. Eu soube, através de amigos, que ele ficoumuito feliz de ouvir todos os dias a música na abertura da novela”.Lembrou,ainda, de uma entrevista quando trabalhava para o jornal O Globo. “Quandoeu era repórter, no início de minha carreira, em1970, para promover a obra dele como pintor - pois ele era um pintormuito interessante e eu era crítico de arte – eu o entrevistei. Ali eupercebi que, como todas as pessoas importantes que tive a oportunidadede conhecer, ele era muito simples. A verdade é que quemgosta de botar banca em geral é porque não é grande coisa”. Para a cantora baiana Daniela Mercury, Caymmi foi um dos dois principais responsáveis pela construção do imaginário baiano.“A sua doçura de mestre foi sem dúvida, juntamente com Jorge [Amado], responsável pela construção de todo o imaginário da Bahia. Eles dois construíram o que a gente imagina de nós mesmos e do que a Bahia tem de bom, até a nossa preguiça. Ele é a pedra fundamental da música popular brasileira”Daniela revelou ainda uma coincidência: até as 22h de ontem, estava no estúdio gravando uma canção de Caymmi: O Samba da Minha Terra. “É por isso que eu digo: não dá para pensar em samba, em Bahia e em Brasil sem Dorival Caymmi. É uma grande alegria, mesmo neste momento de tristeza, saber que pude conviver com ele”.Caymmi morreu hoje de manhã, aos 94 anos, de insuficiência renal e falência múltipla de órgãos. O corpo será enterrado amanhã no Cemitério São João Batista, em Botafogo, em horário ainda indefinido.