Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O aquecimento daeconomia, que tirou milhões de brasileiros da pobreza, tembeneficiado especialmente os negros. Segundo pesquisa divulgada nestasemana pela Fundação Getulio Vargas (FGV), querevelou que mais da metade dos brasileiros pertence à classemédia, a ascensão social dos negros estáocorrendo de forma mais rápida do que a do restante dapopulação.De acordo com o estudo, o percentualda população nas seis principais regiõesmetropolitanas do país que integra a classe médiapassou de 43,64%, em 2002, para 51,57%, em abril deste ano. No mesmoperíodo, a proporção de negros que fazem partedessa faixa social subiu de 39,24% para 50,87% – alta de 11 pontospercentuais.Apesar de ainda estar abaixo da média parao conjunto da população, a proporção denegros na classe média está cada vez mais próximada média geral. No entanto, a velocidade da melhoria do padrãode vida para as pessoas de raça negra surpreende até osorganizadores da pesquisa”“Na classe C, houve esseprocesso de maior inclusão das pessoas negras”, destaca ochefe do Centro de Políticas Sociais da FGV, Marcelo Néri.Ele ressalta que, mesmo com o desenvolvimento do país nasúltimas décadas, a pesquisa mostrou uma nova tendência.“Esse é um dado interessante, porque a gente tem visto muitopouca mobilidade por raça no Brasil, mas, nos últimosanos, os números pelo menos mostram um deslocamento.”Para a FGV, aprincipal explicação para essa melhora é que ocrescimento econômico está beneficiando principalmenteas classes menos favorecidas, compostas principalmente por negros. Em2002, 38,55% da população negra estava na classe E, amaior fatia entre as raças pesquisadas. Em abril deste ano, aproporção caiu para 23,58% e se aproximou de outrascamadas de menor renda, como pardos (22,98%) e índios(22,54%).Na visão de Néri, o aumento na rendado trabalhador explica a melhora nas condições de vida.Ele, no entanto, alega que, esse processo está se consolidandopor causa do avanço na educação: “O fatorfundamental que vai determinar a renda é a educaçãoacumulada ao longo dos anos. Ela serve de base para uma inserçãotrabalhista que, por sua vez, é a base para a inclusãosocial e econômica.”Os números sãoavaliados com cautela por entidades vinculadas aomovimento negro. Coordenador pedagógico da organizaçãoEducação para a Cidadania de Afro-Descendentes eCarentes (Educafro), rede de cursos pré-vestibularescomunitários, Adriano Rodrigues diz que ainda é cedopara dizer se a ascensão dos negros é definitiva.“Se nãohouver uma política específica e de longo prazo para aeducação dos negros, as pessoas dessa raçavoltarão à pobreza assim que a economia parar decrescer”, critica. “Atualmente, a melhoria nas condiçõesde vida está atrelada apenas à conjuntura dopaís.Rodrigues reclama ainda da base de comparação,que considera pequena. “Se o número de estudantes negros denuma faculdade passar de um para três, a proporçãoé triplicada, mas o total continua pequeno”,argumenta.Mesmo com o aumento da velocidade na ascensãosocial dos negros, a FGV constatou que ainda há muito porfazer para superar as desigualdades sociais no país. Conformeo estudo, a raça corresponde a apenas 9,52% das pessoas declasse média nas seis regiões metropolitanaspesquisadas (Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, SãoPaulo e Porto Alegre). Em 2002, essa parcela era de 6,88%.AFGV considera de classe média as famílias com rendaentre R$ 1.064 e R$ 4.591 por mês. A classe E, de acordo com oestudo, abrange as famílias que ganham menos de R$ 768mensais.