Garcia estranha notícia sobre as Farc quando Brasil e Colômbia buscam diálogo

07/08/2008 - 20h11

Nielmar de Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - O assessor especialpara assuntos internacionais da Presidência da República,Marco Aurélio Garcia, considerou sintomático que arevista colombiana Cambio tenha publicado matéria sobre aexistência de um suposto envolvimento de autoridades doprimeiro escalão do governo brasileiro com as ForçasArmadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), no momentoem que os dois países buscam o dialogo e o entendimento. “Eu acho muitosintomático que num momento em que tem havido uma aproximaçãomuito grande entre o Brasil e a Colômbia, na qual todos nóscontribuímos, e o presidente Lula foi o principal mentor,surja uma matéria como essa”, afirmou.O assessor manifestouestranheza com “o oportunismo da publicação damatéria” por parte da revista colombiana. “Eu, particularmente,acho que a matéria tem um caráter de provocação.Porque ela menciona genericamente pessoas que aparecem nos relatórios- fulano, beltrano e cicrano -, mas não diz como aparece, esurge em um momento em que há um entendimento tãoestreito entre os presidentes Lula e Álvaro Uribe. É umentendimento sincero, e volto a ressaltar a minha estranheza quesurja neste momento uma matéria como essa.”Garcia afirmou que emnenhum momento manteve, nem mesmo por meio de terceiros, qualquercontato com as Farc.“Mais do que isso.Antes mesmo do começo do governo do presidente Lula, mas comele já eleito, eu tomei a iniciativa de procurar o embaixadorda Colômbia no Brasil e deixar claríssimo para ele quenós só manteríamos relações com ogoverno colombiano. Até porque, na época jáhavia especulações sobre isto ou aquilo [envolvimentode brasileiros com as Farc]”, afirmou o assessor presidencial.Na avaliaçãode Garcia, como os documentos citados pela revista estavam nas mãosdo governo da Colômbia, o mais provável é que ovazamento das informações - “que eu não sei sesão falsas ou verdadeiras” - tenha se dado através dealguém do próprio governo colombiano contrário àaproximação dos presidentes Lula e Uribe.“Nós ainda nãofalamos com ninguém do governo [da Colômbia]sobre o assunto, mas acho que teremos que fazê-lo brevemente”,disse.Sobre a atuaçãodas Farc e a possibilidade de que negociem a deposiçãodas armas com o governo de Álvaro Uribe, Garcia disse que ogoverno brasileiro não tem posição definida arespeito, uma vez que prefere não se meter em assuntosinternos de outros países.“O governo nãotem posição sobre que atitude as Farc deve tomar apartir de agora, se tem ou não que depor as armas, porque esseé um assunto interno da Colômbia”, afirmou.Garcia disse, noentanto, que pessoalmente “é de que fica claro que as Farcdeveriam fazer acordos com o governo. Acho que a luta armada naColômbia hoje não tem qualquer relação oucaracterística que tiveram em outros períodos em que selutavam contra ditaduras”. Na avaliaçãodo assessor especial da Presidência, nesse momento énecessário que a luta armada tenha “uma certa legitimidade”.“No caso da Colômbia,essa luta divide o país. É repudiada pelos próprioscolombianos e há certos métodos que as Farc foramadotando depois de um certo tempo. Agora, volto a repetir, o governonão se mete com assuntos internos da Colômbia”.