Paula Laboissière
Enviada especial
Buenos Aires - A Argentina deve deixarpara trás os desentendimentos durante a Rodada Doha eaproveitar o bom momento vivido pelo Brasil em âmbitointernacional. A avaliação é do analistaeconômico Dante Sica, ex-secretário de Indústriada Argentina e analista econômico especializado na relação entreos dois países. De acordo com o analista, o governo de Cristina Kirchner [presidente daArgentina] precisa compreender melhor o novo alinhamento dapolítica internacional brasileira, para que possa “engatar”sua própria política externa. “Teremos muito mais aganhar em termos de conjunto e de posição diferenciada.Deve-se abrir uma nova etapa de discussão a partir disso, noMercosul. Devemos reconhecer em todos os países asnecessidades de política externa, de se abrirem à essenovo mundo que está dando uma oportunidade muito grande para aAmérica Latina, e tratar de aproveitar – tanto em nívelde política interna como externa – as oportunidades.”Dante destaca que oBrasil conta, atualmente, com estratégias voltadas parapolítica externa com caráter ofensivo, enquanto aArgentina permanece com táticas defensivas e protecionistas, oque gera diferenças marcantes quando se trata deposicionamento internacional.“Lamentavelmente, aArgentina tem uma política interna que muitas vezes dificultapoder ascender com mais força ao mercado internacional. Éo caso da suspensão de algumas exportações comoo trigo para o Brasil. São restrições quecolocaram aqui, e nesse sentido a Argentina precisa fazer maisesforço. Quando se analisa e compara com anos anteriores, aArgentina está muito exilada do contexto internacional”,disse.Ele acredita que oBrasil, como o maior parceiro da Argentina no Mercosul, pode ajudaros argentinos a romper o “isolamento internacional”. Ao comentar a visita dopresidente Luiz Inácio Lula da Silva a Buenos Aires, no últimodomingo (4), o analista reforça que o líderbrasileiro, acompanhado por uma delegação de empresáriocom interesse no mercado argentino, abriu caminho para uma maiorintegração regional.“É uma apostaao governo argentino e um sinal de que as diferenças nasnegociações durante a Rodada Doha não empatam oque são as relações entre os países. OBrasil tem a possibilidade de jogar muito mais forte em termos deintegração regional e nos chama a ter uma aliança”,avalia.Para Dante, tanto aArgentina como o Brasil devem estar atentos aos problemas energéticosmanifestados na América do Sul sob o ponto de vista regional,além de fazer esforços junto ao Uruguai e ao Paraguaipara buscar uma saída “politicamente confiável”,aproveitando os recursos energéticos bolivianos eintegrando-se ao Chile e ao Peru.“Temos que utilizaresses acordos bilaterais para fazer um programa muito forte deintegração de infra-estrutura regional. Nossos paísestêm integração física, por meio de marcosferroviários e de aerovias, mas devemos avançar em umprojeto que vai melhorar a competitividade entre as empresas eacelerar a melhoria da circulação de bens”, defende.Ele elogia o acesso aofinanciamento internacional conquistado pelo Brasil e ressalta quetal êxito, somado ao poder de compra da moeda brasileira,permite que muitos empresário ingressem em solo argentino. Nos últimosquatro anos, segundo Dante, o Brasil se transformou no primeiro paísde origem de capital na Argentina em setores como o têxtil, decalçados, o eletrônico e o automobilístico.“São setoresonde, historicamente, a Argentina tem tido problemas e, hoje, adisputa comercial acaba sendo diluída pela forte participaçãodo Brasil em nosso processo de produção. Acredito que avisita de Lula permite visualizar melhor o impacto econômicodos empresários brasileiros na Argentina. Eles nãoapenas compram empresas, mas geram novas empresas, integram capital eabrem muitos postos de trabalho para o nosso país. Éuma nova etapa que temos no Mercosul.”