Reunidos em Roraima, agricultores ensaiam reação contra demarcação de terras indígenas

02/08/2008 - 17h32

Marco Antônio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Agricultores de várias partes do paísse unem para fazer críticas às recentesdemarcações de terras indígenas anunciadas pelogoverno federal. Os produtores rurais participam do 1º Encontro Nacional deProdutores Rurais e Desenvolvimento Sustentável em ÁreasFronteiriças, emBoa Vista, capital de Roraima. A reunião – promovida pela Confederaçãoda Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e pelo governo de local – ocorre no estado onde está localizada aTerra Indígena Raposa Serra do Sol, área de 1,7 milhãode hectares, cuja demarcação é contestada na Justiça, com julgamento previsto para o dia 27 de agosto noSupremo Tribunal Federal (STF). NaRaposa Serra do Sol vivem cerca de 18 mil índios e parte delesdefende a expulsão dos arrozeiros que ocupam aproximadamente1% da área da reserva. Para o líder dos arrozeiros deRoraima, Paulo César Quartiero, que coordena um movimento deresistência à saída dos fazendeirosda reserva, a presença dos agricultores de outros estados emBoa Vista tem uma simbologia importante.“Nosdá uma força, um ânimo novo, no sentido deperceber que nossa luta não é solitária. Alémde estarmos defendendo nosso interesse pessoal, defendemos aintegridade territorial brasileira”, afirmou Quartiero ementrevista à Agência Brasil. “Enquanto os índiospedem apoio na Inglaterra, França, Itália, e atécom o papa [eles] estiveram, nós produtores somos brasileiros unidosna mesma bandeira”, acrescentou. “Somenteos 25 mil hectares da plantação de arroz na regiãoda Raposa Serra do Sol movimentam mais de R$ 100 milhões porano”, afirmou o presidente da Federação daAgricultura e Pecuária do Estado de Roraima, Almir Sá,conforme nota divulgada pela CNA. Ele se refere às perdas que uma eventual retirada dos arrozeiros dareserva indígena poderia acarretar à economia de Roraima. Osdois principais eixos do debate entre os agricultores são odireito à propriedade e o que eles chamam de internacionalização da Amazônia.“Háum risco para a soberania nacional, principalmente nas demarcaçõesfeitas nas áreas de fronteira”, afirmou o presidente doSindicato Rural de Amambaí (MS), Christiano Bortolotto. Bortolottoinformou que pretende expor, durante o encontro, a situação dosagricultores do Mato Grosso do Sul, que se sentem ameaçadospela presença de antropólogos no estado para fazerem,em cumprimento a portarias da Fundação Nacional doÍndio (Funai), estudos de demarcação de terrasindígenas em 26 municípios.“Nossosentimento é de que os títulos de posse centenáriostêm que ser válidos, não podem ser invalidados deuma hora para outra”, reclamou Bortollotto. Odirigente sindical negou o suposto objetivo da comitiva do MatoGrosso Sul de trocar experiências com Quartiero sobre ummovimento de resistência. O líder dos arrozeiros tambémdisse que não tem nenhuma orientação para os colegas, alegando serem elesde um estado com mais tradição agrícola queRoraima, mas afirmou que a posição contrária àdemarcação das terras indígenas em áreasde fronteira é um propósito em comum entre ele e o grupo. “Acausa é de todo mundo. É a luta contra a instalaçãode uma nova ditadura subordinada ao interesse internacional, que nãorespeita o direito de propriedade e compromete até aexistência de nossa nação. Temos que traçarum planejamento para reagirmos conjuntamente”, defendeu oarrozeiro. Aofinal do encontro na próxima terça feira (5), osagricultores prometem divulgar um documento intitulado “Carta deRoraima” com posições consolidadas sobre os temas emdiscussão.