Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A posição radical adotada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), ao impor elevações contínuas para a taxa básica de juros, teve o objetivo de “dar logo uma boa pancada e abreviar essa trajetória de crescimento da inflação”, disse hoje (24) o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.Durante encontro promovido pela Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB), no Rio de Janeiro, o ministro ressaltou que a inflação já tem demonstrado sinais de arrefecimento. “O que nós queremos é inflação controlada e baixa. E a partir daí manter os nossos programas que visam o crescimento econômico e a geração de emprego”.Bernardo comparou o Banco Central (BC), ao qual o Copom está vinculado, ao zagueiro Fontana, da seleção brasileira de futebol de 1970. Indagado sobre quantas “botinadas” o BC teria que dar para manter a inflação sob controle, o ministro afirmou que “a botinada não é uma coisa desejável no jogo. E muito menos a todo momento”. Admitiu, porém, que é lícito tomar a bola do adversário, mesmo que leve uma falta. “Numa hora em que você está em perigo de levar gol e nós estamos disputando a taça, não dá para simplesmente aplaudir quando o atacante te dribla”.O ministro avaliou que o Banco Central “resolveu ontem abrir a caixa de ferramenta e foi para cima”. Ele acredita que mais adiante haverá espaço para fazer “jogadas mais habilidosas”. Bernardo aposta que a inflação este ano vai ficar na casa dos 6% e, portanto, dentro da margem de tolerância. “Mas nós continuamos tendo meta de 4,5%. E em 2009 o nosso trabalho vai ser para que a inflação volte à meta."Ele admitiu que o ritmo de crescimento da economia tem diminuído, embora os últimos índices econômicos já mostrem um arrefecimento da inflação. “Acho que temos que vigiar, temos que estar atentos para isso. Mas também não dá para fazer um alarde. Olha, perdemos o controle. Seria gerar uma expectativa que não é verdadeira. E seria muito ruim.”Na avaliação de Bernardo, o Banco Central está fazendo um bom trabalho. Disse que este ano o país experimentou um ritmo de crescimento muito forte no primeiro trimestre, de 5,8%. No segundo trimestre, acrescentou, a expectativa é que o ritmo de avanço tenha sido na faixa de 6%.O ministro avaliou a possibilidade de haver uma redução do ritmo de expansão no segundo semestre. Lembrou, porém, que as medidas do Banco Central não têm efeito imediato. “Por isso, a nossa aposta é que nós vamos ter crescimento de 5% [este ano]. Talvez até passe disso."Bernardo afirmou também que toda a política de elevação dos juros vai afetar o crescimento em 2009. Ele espera, contudo, que não afete em profundidade. Não quis arriscar nenhum prognóstico. “Racionalmente analisando, se nós estamos fazendo uma política contracionista, a tendência é ter um crescimento menor”, disse Bernardo.Ele garantiu, porém, que os investimentos continuam vigorosos, apesar da situação mundial. Se a crise internacional melhorar, ele não tem dúvidas de que os investimentos estrangeiros poderão aumentar ainda mais no Brasil. “O quadro está bom”, definiu.Na análise do ministro, endossada por recente reportagem do Financial Times, o Brasil “é praticamente a bola da vez no cenário internacional”. Ressaltou que o país não sofreu nenhum efeito importante da crise mundial que se estende por mais de um ano. O consumo subiu de 4,6% em 2006 para 6,5% em 2007, enquanto o investimento saltou de 10% para 13,4% no mesmo período. “Estamos, além de tudo, criando condições para crescer de maneira sustentável”, salientou.A dívida em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma das riquezas produzidas no país, está hoje em 41%, com tendência de chegar a 36% ou 37% do PIB em 2010. No comércio, a expansão superou 10% acima da inflação, apontando o mercado doméstico como um dos motores desse crescimento.O governo, reiterou o ministro, não permitirá que a inflação ganhe corpo. E lembrou que esse não é um problema exclusivo do Brasil, mas se estende pelo mundo todo. Na China, a inflação atingiu 7%, na Índia 8%. Em países industrializados, como Inglaterra e Estados Unidos, a inflação é de 4% e de cerca de 5%, respectivamente. No Chile, alcança 9,5% e na Venezuela, beira os 32%.