Mayana Zatz diz que decisão do STF já trouxe avanços em pesquisas com células-tronco

18/07/2008 - 15h57

Luana Lourenço
Enviada Especial
Campinas (SP) - O embate da sociedade e da comunidade científica noSupremo Tribunal Federal (STF), quegarantiu a liberação de pesquisas com células-tronco embrionárias, járendeu avanços positivos para os pesquisadores da área,principalmente pela repercussão internacional e o potencial de atraçãode recursos da iniciativa privada. O balanço foi feito hoje (18) pelageneticista e pesquisadora Mayana Zatz, do Centro de Estudos do Genoma Humano daUniversidade de São Paulo (USP). Principal nome da pesquisa do genoma no Brasil, apesquisadora disse que recebeu apoio de colegas estrangeiros e uma“disponibilidade gigantesca de cooperação”, após a decisão pelaconstitucionalidade do artigo da Lei de Biossegurança, que permite essetipo de pesquisa. “Eles nos olham agora com mais respeito, como sedissessem: ‘agora vocês fazem parte do clube’; estão dispostos a viraqui nos dar cursos para nos ensinar mais sobre essas células, realizartroca de estudantes, troca de material”, detalhou Mayana durante a 60ª ReuniãoAnual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Segundo Mayana Zatz, o país precisa agora investir emrecursos e capacitação de profissionais, para viabilizar o andamento daspesquisas com células-tronco de embriões. “Temos vários laboratóriosque têm potencial para fazer essas pesquisas, mas vamos precisar demais recursos e mais know how. Nós realmente vamos poder crescer, masprecisamos de investimentos, além de tornar os centros já existentes emfocos multiplicadores”, disse a geneticista. A liberação das pesquisas já despertou interesse dainiciativa privada norte-americana e européia em financiar os estudos,segundo a pesquisadora. “Esperamos que a iniciativa privada nacional seja motivada acolaborar também. Somente com recursos públicos, o ritmo das pesquisasé devagar”, apontou.A decisão do STF sobre utilização de embriões tambémabriu perspectivas para pesquisadores que estudam e aplicam pesquisascom células-tronco adultas, de acordo com a professora Ângela Luso,coordenadora do banco de sangue de cordão umbilical da UniversidadeEstadual de Campinas (Unicamp). “Sentimos que já houve abertura dos comitês de éticapara tentar agilizar os processos, porque ainda há muita coisa parada.E é importante destacar que as pesquisas com células adultas, comobjetivo de aplicação clínica, vão continuar sendo feitas”, comentou. Durante a reunião da SBPC, Mayana Zatz divulgou resultadosrecentes de utilização de células tronco da polpa dentária em cachorrosda raça golden retriever, com obtenção de resultados positivos paracasos de distrofia. Em outro estudo, lançado recentemente, o grupo dacientista utilizou células-tronco de gordura em camundongos comfraqueza muscular, também com resultados promissores, segundo Mayana. “Em relação à pesquisa com células embrionárias,estamos na fase de reescrever os projetos, porque em três anos [tempoque a pesquisa ficou paralisada aguardando a decisão do STF] muita coisamudou. Vamos submetê-los às comissões de ética e às instituições definanciamento”, adiantou Mayana Zatz.