Delegado diz que ainda não conseguiu esclarecer quem foi o responsável pelo acidente

12/07/2008 - 18h52

Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Somente quando for descoberto por que o manete correspondente ao motor direito do Airbus A320 estava na posição de aceleração, a polícia vai poder revelar as verdadeiras causas do acidente que matou 199 pessoas e apontar os responsáveis. Para apontar os reais motivos da tragédia, diz o delegado Antonio Carlos Menezes Barbosa, que coordena as investigações sobre o acidente com o vôo 3054 da TAM, é preciso  saber por que o equipamento estava em posição errada.Para Barbosa, embora diversos fatores tenham se somado para provocar o acidente, a aceleração de um dos motores durante o pouso, enquanto um dos reversos (freios) estava travado, foi a principal causa para que o avião não conseguisse frear, virasse à esquerda e fosse se chocar contra o prédio onde funcionava o terminal de cargas da própria TAM, próxima à cabeceira da pista.

“Indiscutivelmente, temos um fator principal, que foi o fato de o manete do motor direito da aeronave ter sido deixado na posição de aceleração. O que não sabemos é por que ele estava naquela posição. Se houve um problema de componentes mecânicos ou se foi um erro humano”, declarou Barbosa à Agência Brasil.

Além do posicionamento do manete, o delegado afirma que as condições da pista principal do Aeroporto de Congonhas, a falta de fiscalização por parte das autoridades responsáveis e o descumprimento de uma norma que proibia o pouso de aviões com o reverso travado em dias de chuva, como o da data do acidente, também teriam contribuído para o acidente.

De acordo com Barbosa, as investigações policiais estão perto do fim. Após ouvir o depoimento de 309 pessoas, de familiares de vítimas, aeroviários e aeronautas até servidores e diretores da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero) e da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o delegado aguarda apenas que a Polícia Científica conclua o laudo técnico. O inquérito já soma 13 mil páginas.A expectativa do delegado é de que a Polícia Científica conclua o laudo até o final de agosto para que ele possa, no prazo de 20 dias úteis após receber o relatório, apresentar suas conclusões ao Ministério Público. “Os peritos solicitaram alguns documentos à Infraero, a Airbus e a TAM e eles estão para ser entregues. Há também uma solicitação judicial do relatório parcial do Cenipa [Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos], que está prestes a ser divulgado”.

Barbosa acredita que o resultado do trabalho policial não irá divergir do feito pelo Cenipa. “Os documentos que o Cenipa nos encaminhou farão parte do nosso laudo, que não deve fugir do que o Cenipa deve divulgar. Acreditamos que, pelos depoimentos colhidos, deveremos ir um pouco além do que o Cenipa fará”, afirmou o delegado, lembrando que a investigação do Cenipa tem um caráter preventivo, servindo para evitar novos acidentes. “A nossa é totalmente diferenciada. Além de apontar as causas técnicas do acidente, apontaremos os responsáveis”.

Questionado se a Anac seria poupada por alegar que a instrução suplementar 121/189, apesar de ter sido publicada no site da agência, não estava em vigor por se tratar de um estudo técnico ainda não aprovado pela diretoria da agência, Barbosa deixou transparecer que os servidores responsáveis por apresentar a norma à Justiça a fim de obter a liberação da pista principal de Congonhas têm o que temer.“Não vamos entrar em discussão jurídica com a Anac quanto à validade da norma, mas sim aspectos que consideramos fundamentais, como o fato dela ter sido utilizada para que a pista fosse liberada. Então a norma valia para isso, mas não valia após o acidente?”, questionou Barbosa. “Vamos apontar a responsabilidade das pessoas que deveriam fiscalizar e, em alguns aspectos, não o fizeram. Há notícias de que, sete meses antes do acidente, o próprio gerente de padrões de aviação da Anac, já previa que uma aeronave podia varar a pista caso não fossem adotadas algumas restrições às operações”.