Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O relatório final da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Correios, origem dasinvestigações que levou à prisão empresários e políticos supostamenteligados ao esquema do mensalão - pagamento de propina a parlamentaresem troca de favores políticos – apresentou em pormenores a forma como odono do Grupo Oportunity, Daniel Dantas, teria atuado. Dantas foi umdos empresários presos, hoje (8), pela Polícia Federal.O então relator da comissão parlamentar de inquérito,deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), afirmou no seu relatório que teveacesso a diversos relatórios falsos de serviços prestados pelasempresas do publicitário Marcos Valério, operador do mensalão, à BrasilTelecom, uma das telefônicas controladas pelo Opportunity e investigadapela CPMI. No relatório final, Serraglio foi categórico ao apontar ouso das empresas de publicidade SMP&B e DNA como “fachada” nodesvio de dinheiro privado para o “valerioduto”.“Esta CPMI teve acesso a diversos relatórios falsos de serviços prestados pelas empresas do Sr. Marcos Valério à Brasil Telecom, comprovando a utilização de empresas de propaganda como fachada para transferência de recursos de empresas privadas para o valerioduto”, diz o relatório final, enviado ao Ministério Público.A conclusão das investigações conduzidas pelosdeputados e senadores sobre o esquema de desvio de recursos públicos eprivados para o pagamento de mesadas a parlamentares, demonstra que oobjetivo de Daniel Dantas, ao irrigar o caixa do "valerioduto" seriamanter o controle do Opportunity sobre as concessionárias de telefoniaBrasil Telecom, Telemig e Amazônia Celular.As investigações sobre a participação do Opportunityno esquema de Marcos Valério remonta a 1997. Neste ano, o grupo passoua controlar uma série de fundos de pensão de entidades públicas, como Banco doBrasil, Petrobrás e Caixa Econômica Federal. Em 2003, relata Serraglio,o empresário foi retirado do controle desses fundos “por quebra dodever fiduciário”.De acordo com as investigações conduzidas, foi apartir desse contexto que Dantas teria buscado a parceria com MarcosValério para tentar retomar, pela influência política, o poder perdidonos fundos de pensão.“No afã de voltar a obter o poder de outrora, o Sr.Dantas não mediu esforços e canalizou recursos das citadas empresas [Brasil Telecom, Telemig Celular e Amazônia Celular] para as de MarcosValério, que os distribuiu entre seus interlocutores, com o intuito deauxiliar o Sr. Daniel Dantas a reestabelecer-se. É fato que o Sr.Dantas quase logrou êxito em sua empreitada, não fosse a brusca guinadapolítica, provocada pela revelação do esquema de Marcos Valério, objetoda presente investigação parlamentar”, afirma Serraglio, no relatório final da CPMI.Em 2004, o empresário firmou uma série de contratoscom as empresas de Marcos Valério que somaram mais de R$ 50 milhões.Deste total, relata Serraglio à época, R$ 2,5 milhões foramefetivamente pagos até junho de 2005, “antes mesmo da entrega dosserviços contratados”. A CPMI obteve dados que demonstram a transferência derecursos das empresas Telemig Celular S/A e Amazônia Celular para asempresas publicitárias de Marcos Valério, que somavam à época R$ 152,4milhões. Os valores começaram a ser repassados no ano de 2000. Algumasdas notas fiscais emitidas em favor da Telemig Celular simplesmentedesapareceram o que, de acordo com o deputado Osmar Serraglio, impediua comprovação da natureza dos serviços prestados pelas empresasSMP&B e DNA.Várias notas fiscais das empresas SMP&B e DNA emfavor da Telemig Celular e Amazônia Celular foram encontradas queimadasnos municípios mineiros de Contagem e Brumadinho. Questionado sobre oassunto, quando depôs na CPMI, DanielDantas disse que as notas não corresponderiam aos serviços prestados.Em seu relatório, Osmar Serraglio ressalta, noentanto, que o empresário “não produziu contraprovas de glosasdevidamente justificadas da inexatidão das faturas. Prometeu enviá-las a esta Comissão, o que não acorreu”.No depoimento, Dantas teria omitido, ainda, aassinatura de “um contrato milionário” entre a Brasil Telecom e asempresas de publicidade de Marcos Valério. A parceria foi firmada emmeados de 2005, pouco antes de estourar o escândalo do pagamento depropina a parlamentares.Quando foi questionado pela CPMI sobre o assunto,Daniel Dantas sustentou que a Brasil Telecom possuía contratos depublicidade com empresas do publicitário Duda Mendonça. Entretanto, coma quebra dos sigilos bancários de Marcos Valério e de suas empresas,foi comprovada a transferência, pela Brasil Telecom, de R$ 3,9 milhõesà SMP&B e R$ 823.529,00 à DNA Propaganda.A administração da Brasil Telecom, na época, anuncioua existência de dois contratos de publicidade com as empresas de MarcosValério, que somavam R$ 25 milhões, assinados em maio de 2005. OsmarSerraglio ressaltou que a assinatura desses contratos foi posteriorà movimentação financeira entre a empresa de telefonia e Marcos Valério,descoberta a partir da quebra dos sigilos bancários do operador domensalão.