Marco Antônio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Nos últimos anos, o Brasil atingiu um ritmo acelerado deredução da desigualdade social, mas precisará de alternativas para manter oprocesso em níveis que lhe permita chegar, nas próximas décadas, ao patamar dospaíses mais igualitários do mundo. Essa foi a conclusão de um estudo doInstituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que fez avaliaçõescomparativas entre a experiência brasileira e a de outros países queconseguiram sucesso na redução da desigualdade.Os dados mostraram que o atual ritmo de queda da desigualdadeno Brasil, de 0,7 ponto de Gini [ parâmetro internacional que mede adesigualdade social entre uma população], é até superior ao registrado empaíses desenvolvidos. Suécia e Holanda, por exemplo, mantêm reduçõesrespectivamente de 0,5 e 0,2 ponto de Gini, mas, em ambos os países, o esforçodistributivo foi mantido por mais de 30 anos.“Vários mecanismos que permitiram essa queda acelerada dadesigualdade no Brasil estão próximos de serem exauridos. O Bolsa Família, quefoi uma das vedetes, já cobriu essencialmente quem ia cobrir, ou seja, o grossoda contribuição que podia dar, já deu. O salário mínimo dobrou nos últimos 10anos e se dobrar nos próximos 10, não vai ter o mesmo efeito. Então nós vamoster de buscar outras formas de manter a desigualdade em queda para se poderchegar a um país mais justo em algumas décadas”, afirmou em entrevista à AgênciaBrasil o pesquisador do Ipea Sergei Suarez.Segundo o pesquisador, a meta brasileira deve levar em conta asituação em países com características semelhantes: grandes, federativos e comfortes divisões étnicas. Estados Unidos, México e Canadá são alguns exemplos.“A Dinamarca é um país cujo nível de desigualdade nunca vamosatingir, um país pequeno, que não é federativo, de população homogênea. Já oCanadá, onde há um estado relevante de bem-estar social, não é inatingível. Éuma meta muito difícil, mas possível de se atingir numa geração”, afirma.E acrescenta: “O México é um dos países mais igualitários do mundo e semantivermos o ritmo por mais 5 anos, conseguiremos chegar ao nível deles. Adiferença é que o México rural é muito mais justo que o Brasil rural, porque,há 110 anos, [eles] fizeram uma grande reforma agrária, e nós ainda nãofizemos”.As soluções apontadas pelo pesquisador para que o Brasilmantenha a busca por justiça social em ritmo intenso passam pelo fortalecimentode políticas de combate à desigualdade regional e racial, adequações daestrutura tributária e investimento maciço na educação. A previsão do estudo éque, caso se conseguisse repetir os últimos cinco anos, o Brasil chegaria em2.030 ao nível de desigualdade do Canadá.O Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome foi procurado pelareportagem para comentar as projeções do estudo e informar as perspectivasfuturas de programas atuais, como o Bolsa Família. A assessoria de imprensadisse que a secretaria competente para conceder entrevista sobre o assunto nãopoderia se manifestar sem analisar detalhadamente o documento do Ipea.