Processo de avaliação que antecede cirurgia de mudança sexo é essencial, diz médica

07/06/2008 - 0h19

Adriana Brendler
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A cirurgia de mudança de sexo é tecnicamente simples, mas se torna uma intervenção complexa por causa das questões emociais, legais e sociais que envolve. Essa é a opinião da cirurgiã plástica Talita Franco, uma das responsáveis por esse tipo de intervenção cirúrgica realizada desde 2002 no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).Ela ressalta a importânciado processo de avaliação que antecede a cirurgia já que esseprocedimento garante que a intervenção só seja realizada noscasos em que o indivíduo esteja preparado e tenha um estruturapsíquica identificada com o sexo oposto, já que a mudança éirreversível.“Todo o procedimento definitivo eradical como esse tem que ser muito bem avaliado e bem indicado poisuma das coisas que estamos fazendo é a retirada de um órgão sadio. Paraque isso se justifique é preciso que a parte estrutural da mente dapessoa peça isso e não por uma fantasia, uma necessidade de momento, oupor achar que uma cirurgia vai resolver uma tendência afetivo-sexualdiferente”, alertou. De acordo com a médica,nos últimos seis anos, oito cirurgias para mudança de sexo foramrealizadas pela equipe composta por cirurgiões plásticos e urologistas.Pelo menos o dobro dessa quantidade de pessoas começou o processo deavaliação mas não chegou à cirurgia por desistência do própriointeressado ou por ele ter sido considerado inapto pela equipe. Hoje,dez pessoas que já passaram pelo período de avaliação de dois anosaguardam para fazer o procedimento cirúrgico. Segundo Talita, ascirurgias são realizadas de acordo com as possibilidades do hospitallevando em conta prioridades de tratamento em outras áreas.Paraa cirurgiã, o anúncio do ministro da Saúde, José Gomes Temporão - que naúltima quinta-feira (5) garantiu que assinará até o fim do mês uma portaria que vai permitir arealização de cirurgia de mudança de sexo peloSistema Único de Saúde (SUS) - não traz nenhuma novidade na prática, uma vez queos procedimentos já são feitos normalmente no hospital e pagos peloSUS. Entretanto, ela se mostrou preocupada com o efeito de informaçõessuperficiais para o grande público. Ela teme que o anúncio provoque umagrande procura pelo serviço e gere demandas que não podem seratendidas, principalmente, por causa da atual falta de recursos noshopitais universitários.“Acontece isso freqüentemente: ogoverno joga uma responsabilidade dessa mas não dá a contra-partida. Éobrigatório fazer tal ou qual atendimento. O paciente chega no hospitalcom o jornal na mão querendo o serviço, mas onde está a verba a maispara realizá-lo?”, questiona.Talita estima que ocusto da cirurgia de mudança de sexo seja o equivalente ao de umacirurgia de próstata ou uma mamoplastia, embora o processo todo demoremuito mais tempo e envolva uma série de outros procedimentos eavaliações no período que a antecede.Em entrevista à Agência Brasil, a diretora doDepartamento de Apoio à Gestão Participativa do Ministério da Saúde,Ana Maria Costa, afirmou que as cirurgias para mudança de sexo custeadas pelo SUS serão realizadas em cinco hospitais universitários do país, um emcada região brasileira.