Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O governo dos Estados Unidos questiona a eficiência dasiniciativas brasileiras no combate ao tráfico de pessoas e ao trabalho escravo.Relatório divulgado na última quarta-feira conclui que, apesar dos“significantes” esforços, o governo brasileiro não cumpre com “padrões mínimospara a eliminação do tráfico”.O documento, intitulado Tráfico de Seres Humanos, comestatísticas de 1870 países, diz que “o Brasil é um país fonte para o tráficode mulheres e crianças para exploração sexual no próprio país etransnacionalmente, assim como um país fonte para o tráfico interno de homenspara o trabalho forçado”.O relatório dá ênfase ao trabalho escravo em plantações decana-de-açúcar para produção de etanol – segundo o documento, metade dos cercade 6 mil trabalhadores em regime de escravidão libertados em 2007 eramexplorados em canaviais. O governo norte-americano também cita o Brasil comodestino do tráfico de bolivianos, peruanos e chineses para trabalho forçado emfábricas de grandes centros urbanos.As maiores críticas recaem sobre as ações legais contra otráfico. O documento diz que “no ano passado, o governo brasileiro demonstrou modestos esforços nofortalecimento da lei para combater os crimes de tráfico”. Notexto há sugestões de penas mais graves para quem recruta pessoas paraexploração.O documento causou indignação no governo brasileiro. De acordocom o ministro da secretaria especial dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, oBrasil não reconhece a legitimidade de relatórios de iniciativa unilateral dequalquer país.“A posição oficial do governo brasileiro, já várias vezesexpressada pelo Itamaraty, é de não aceitar, não reconhecer legitimidade denenhum relatório unilateral de nações examinando o contexto de direitos humanosem outras nações. A ONU [Organização das Nações Unidas] existe parasuperar políticas de unilateralismo”, afirmou Vannuchi em entrevista à AgênciaBrasil.Ele também questiona a autoridade moral do governonorte-americano em matéria de direitos humanos. “A administração Bush [ presidentedos Estados Unidos, George W. Bush] não tem autoridade moral para fazerrelatório com reparos à situação dos direitos humanos em qualquer parte domundo”, declarou, citando como exemplo a permissão de práticas de tortura, emprisões norte-americanas, contra supostos de terroristas.“Quando um país, com esse passivo que tem os Estados Unidos,decide fazer esse tipo de relatório, ele só está fazendo disputa política emnome dos interesses econômicos norte-americanos. Uma fraude em termos dedireitos humanos”, afirma.O ministro diz que o governo federal tem intensificadosuas ações no combate ao tráfico de pessoas. Até 2007 foram libertadas 27.645pessoas em condição de trabalho escravo. “As estimativas iniciais da Pastoralda Terra são de que o Brasil teria aproximadamente 25 mil trabalhadores emcondições de trabalho forçado. Já é possível prever que, em poucos anos, o temaestá completamente erradicado da problemática de direitos humanos no Brasil”,avalia.