Execuções sumárias no Brasil têm respaldo da sociedade, diz representante de ONG

02/06/2008 - 21h27

Mariana Jungmann
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A mistura das péssimas condições de trabalho da polícia, lentidão da Justiça criminal e situação caótica nas prisões levou ao quadro apresentado pelo relator das Nações Unidas no Brasil para Execuções Sumárias, Arbitrária e Extrajudiciais, Philip Alston. O apoio de boa parte da opinião pública ajuda a piorar o problema. A análise é da coordenadora de Relações Internacionais da ONG Conectas, de direitos humanos, Lúcia Nader. “Quando você tem um agente público que diz que a Polícia Militar é um ótimo inseticida social, essa pessoa deve ter algum respaldo da sociedade”, define Lúcia, referindo-se a uma declaração dada pelo coronel da PM do Rio Marcos Jardim. A frase do coronel da PM carioca foi citada no relatório preliminar de Philip Alston - o relatório oficial será entregue no começo de julho. O Rio de Janeiro, aliás, foi apresentado no texto como exemplo de lugar onde a polícia mata muito. Um dos exemplos citados por Alston foi uma operação no Complexo do Alemão, na qual nenhum policial foi ferido, mas “eles, aparentemente, necessitaram matar 19 pessoas”. A coordenadora da Conectas acrescenta que as execuções praticadas pela polícia têm um grupo específico de pessoas como vítimas. “Existe um recorte de quem sofre execuções sumárias muito recorrente: aquele que está entre 15 e 40 anos, que vive em bairros pobres e é negro”, define Lúcia Nader. Segundo ela, não há novidades no pré-relatório apresentado pelo relator da ONU, e o Brasil já foi alertado várias vezes sobre esses problemas e as suas soluções. Contudo, afirma Lúcia, as autoridades brasileiras não cumprem as recomendações da Organização das Nações Unidas.