Estudo faz alerta sobre efeitos de mudanças climáticas na matriz energética brasileira

02/06/2008 - 23h55

Isabela Vieira
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Asmudanças no clima vão afetar a matriz energéticabrasileira, baseada em fontes renováveis, responsáveispor 46,4% da energia no modelo atual. O alerta é do estudoMudanças Climáticas e Segurança Energéticano Brasil, divulgado hoje (2) pela Universidade Federal do Rio deJaneiro (UFRJ).Segundo a pesquisa, as mudanças vãoprejudicar em cerca de 2% o potencial das hidrelétricas, quegeram 85,6% da energia no país e podem reduzir até 60%o potencial de energia eólica. Em algumas regiões, asmudanças poderão acabar com culturas de biodiesel, comexceção da cana-de-açúcar, que seguirábem no cenário avaliado."As principais regiõesprodutoras [decana-de-açúcar]no país continuarão dentro dos limites de temperaturapropícios ao cultivo", diz o texto.Segundoa pesquisa da UFRJ, os impactos das mudanças climáticasno atual modelo energético estão previstos para 2071 e2100 e foram traçados a partir das projeçõespara 2030 da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculadaao governo federal. De acordo com o estudo, os impactos do aquecimento global, ainda que distantes,podem ser minimizados se o país reduzir o consumo de energia ediversificar sua matriz investindo, principalmente, na produçãode eletricidade a partir do bagaço da cana e do vento."OBrasil precisa ser muito mais ousado na parte de termelétricasà bagaço e na parte de energia eólica.Seguramente nesta, precisa ser bastante mais ousado. Tinha que tirarela do bojo das outras fontes e trabalhá-la de formaindependente", disse Alexandre Szklo, um dos autoresda pesquisa.Aindade acordo como estudo da UFRJ, apesar de a tendência ser aperda de potencial no interior, a energia eólica estaráfavorecida no litoral do país, onde a haverá aumento deventos de alta velocidade.Parao presidente da EPE, Mauricio Tolmasquim, as previsões doestudo da UFRJ não sinalizarão mudanças napolítica estratégica do governo. Segundo ele, oscenários pesquisados estão baseados em "incertezas"em pouco influenciam no modelo atual. "Oefeito das mudanças climáticas é mínimosobre o sistema elétrico brasileiro. Tanto sobre hidrelétrico,como sobre a cana", disse em referência àpesquisa." No que diz respeito à eólica, apesar doefeito ser maior, mostra também que na costa o potencial podeaumentar. Reduz o potencial do vento em termos de total, masintensifica-se a velocidade em outros locais".Oestudo da UFRJ destacou também que as mudanças do climaprovocarão mais prejuízos à regiãoNordeste que a região Sul. Esta pode ainda ter seu potencialenergético aumentado. Enquantopara o Nordeste está previsto o fim das plantaçõesde soja e mamona, prejudicadas pelas altas temperaturas e pelaestiagem; na região Sul a estimativa é de que as novascondições favoreçam o cultivo da primeira.Emrelação às hidrelétricas, enquanto noNordeste há também o risco de queda em até 7,7%da produção de energia na Bacia do Rio SãoFrancisco, na Grande Bacia do Paraná a previsão éde alta. Ambos movimentos influenciados pelo novo regime de chuvas.