Para líder indígena, Vale do Javari passa por "genocídio silencioso"

30/05/2008 - 6h37

Amanda Mota
Repórter da Agência Brasil
Manaus - Um grupo de seis lideranças indígenas do Vale do Javari(AM) estará em São Paulo segunda-feira (2) para tratarde questões relacionadas à saúde dos povos indígenas que vivem nessaregião, juntamente com representações de organizações governamentais enão-governamentais, como o Conselho Indigenista Missionário (Cimi). De acordo com o presidente do Conselho Distrital de Saúde do Vale doJavari, Jorge Marubo, eles também vão se encontrar com uma equipe deadvogados que irá orientá-los a respeito das providências que pretendemtomar para tentar reverter o quadro de doenças, como hepatite, quecontinua atingindo os índios que vivem no local e causando mortes. Marubo informou que, nas últimas semanas,foram reunidos vários documentos que mostram a situaçãopreocupante em que se encontra a saúde das populações do Vale doJavari. Além disso, ele ressaltou que o maior objetivo dessaviagem é pedir apoio à Organização das Nações Unidas (ONU), por meiode sua representação instalada na capital paulista."Reunimos muitos documentos, incluindo denúncias, relatórios doConselho Nacional de Saúde Indígena e vários termos de compromisso e deajustamento de conduta feitos pelo Ministério Público relacionados apromessas de melhoria e atenção à saúde de nossos povos e que não foramcumpridos. Todos esses documentos serão apresentados aos advogados paraque possamos entrar com essa ação contra o Estado brasileiro na ONU",declarou o indígena. Na avaliação das lideranças, o Vale do Javari vivencia umverdadeiro "genocídio silencioso", que precisa ser revertido o quantoantes, sob pena de se extingüirem em poucas décadas os indígenas que vivem na região. "Estamos longe dos meios de comunicação e isolados. O que estáacontecendo no Vale do Javari é um genocídio silencioso porque muitagente tem morrido e de fato ninguém está fazendo nada. Essa é nossaúltima alternativa. Se desta vez o problema não for resolvido, daqui a20 ou 30 anos os índios do Vale do Javari não vão mais existir",acrescentou Marubo.Representando a etnia Maioruna, o indígena André Waldick reconheceuas dificuldades encontradas para os trabalhos no Vale do Javari, masdestacou que isso não deve mais ser motivo para que as providênciasnecessárias deixem de ser tomadas. Para ele, é preciso organizar asações de saúde. "Os trabalhos desenvolvidos para nossa região vêm sendofeitos de forma desorganizada. É difícil trabalhar numa região como anossa, que é a segunda maior terra indígena do país. As comunidades sãodispersas em quatro calhas de rios e têm pelo menos seis línguasdiferentes. Temos tentado orientar os órgãos competentes e que sãoresponsáveis pela saúde indígena, mas não temos sido ouvidos. Aconseqüência disso está aí para quem quiser ver, que são as mortesregistradas e os problemas de saúde alarmantes", disse.De acordo com o Distrito de Saúde Indígena do Vale do Javari, oproblema com a saúde dos povos indígenas se arrasta há décadas. Segundoeles, o primeiro caso de hepatite registrado na região se deu em 1985 eaté então o problema ainda não foi contido."As autoridades sabem de tudo isso. Agora, nosso último recurso éembarcar para São Paulo com uma comissão de lideranças do Vale doJavari para pedir ajuda da ONU. Se for o caso, vamos entrar com umaação contra o Estado brasileiro. Estamos cansados de ver as mortes dosnossos índios. O Estado brasileiro tem que ser responsabilizado poressa situação que está ocorrendo no Vale do Javari", concluiu JorgeMarubo.