Ana Luiza Zenker
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Com a morte do líder e fundador das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Manuel Marulanda, o “Tirofijo” (tiro certeiro, em espanhol), e a nomeação de Alfonso Cano em seu lugar, existe, sim, a possibilidade de que a organização se torne mais flexível, em prol do diálogo com o governo colombiano. A opinião é do professor do Instituto de Relações Internacionais (IRel) da Universidade de Brasília (UnB), Argemiro Procópio.Em entrevista à Agência Brasil, o professor ressaltou que as Farc vivem agora uma situação muito mais propícia à busca da paz por meio do diálogo, especialmente porque essa saída conta com o apoio de dois Estados da América do Sul.“As Farc nunca tiveram um Estado a favor delas, a favor do diálogo, como hoje são a Venezuela e o Equador; isso não é negativo, deve ser considerado como um apoio, isso pode ser lido como uma forma de trazer as Farc para o diálogo político, e guardando suas armas”, disse, ressaltando que guardar as armas não quer dizer que os guerrilheiros vão desistir da luta armada completamente.“Esses velhos líderes eram muito linha dura, pode ser que a nova liderança das Farc seja mais flexível”, disse Procópio. “Esse movimento, para sobreviver, estará obrigado a considerar as novas realidades; o fato de ter dois governos vizinhos tentando a saída pelo diálogo político pode beneficiar, pode trazer a paz”, considerou.Ele ressaltou, no entanto, que mudanças na postura das Farc só serão efetivas se houver correspondência no governo da Colômbia. “A questão é saber até que ponto as lideranças colombianas estarão preparadas para esse diálogo a favor da paz”, argumentou.Por outro lado, o especialista em política e professor da Universidade Nacional da Colômbia Jaime Zuluaga acredita que mudanças em favor da flexibilização, tanto das Farc quanto do governo, só virão no longo prazo. “Segundo o comunicado das Farc, Marulanda morreu há dois meses e não há nenhuma mudança, além de ter completado o número de integrantes do secretariado e da designação de Cano”, disse o professor. Ele explicou que os dois atores principais do conflito – as Farc e o governo colombiano – têm assumido uma posição militarista e inflexível. A postura do governo, disse, foi reforçada pelos golpes que as Farc sofreram, especialmente com a morte de Raúl Reyes em março, durante uma ação do Exército colombiano, e com a deserção da guerrilheira Karina.“Esses golpes alimentaram uma posição triunfalista no governo, isso o leva a reiterar mais uma vez que ou negociam ou os derrotam”, afirmou Zuluaga. E completou: “Se esperaria que graças à vantagem política e militar, o governo do presidente Uribe tivesse uma posição de relativa generosidade para com o seu opositor, com o objetivo de favorecer condições que levem à mudança de atitude das Farc”.