Danilo Macedo e Ivan Richard
Repórteres da Agência Brasil
Brasília - Se a alta dos preços das commoditiesagrícolas tem sido alvo de protestos por parte de organismosinternacionais, os produtores, por sua vez, não têm tidoganhos significativos com a valorização dos produtosagrícolas que cultivam. Célio Porto, secretário de RelaçõesInstitucionais do Agronegócio, do Ministério daAgricultura, por exemplo, disse que o aumento do barril de petróleotem pressionado o preço dos insumos, o que reflete no preçodos produtos e numa margem menor de lucro para os produtores. “O que a gente tem verificado é que, porcausa do aumento dos preços do petróleo, o preçodos insumos subiu mais do que os dos produtos agrícolas.Então, essa é a grande questão hoje: haveráespaço para redução substancial dos preçosagrícolas, já que os preços dos insumossubiram?”, observou Porto, em entrevista à AgênciaBrasil. O secretário observou que, na décadade 70, houve duas altas significativas dos preços dosalimentos, mas nenhuma delas durou mais que 12 meses.Na 30ª Conferência Regional daOrganização das Nações Unidas paraAgricultura e Alimentação (FAO), realizada semanapassada em Brasília, seu diretor-geral, o senegalêsJacques Diouf, afirmou que, geralmente, a alta nos preços dosalimentos é acompanhada de aumento da produçãona seqüência, o que faz com que os valores dos produtosrecuem e haja um equilíbrio. Mas, segundo ele, com a guinada nos preçosdos insumos agrícolas, os produtores dos países pobresterão dificuldades, e a produção não devecrescer o esperado.Segundo Diouf, o preço do trigo,matéria-prima do pão, aumentou 72% nos últimosmeses. E o preço dos fertilizantes cresceu 59%. No plantio dealgumas culturas, como a soja e o milho (que representam mais de 70%do volume de grãos produzidos no Brasil), os gastos comfertilizantes podem ultrapassar um terço do custo de produção.Para piorar a situação dos produtores brasileiros, ospreços internacionais ainda não foram repassadoscompletamente para o mercado interno.Dados compilados pelo ministério daAgricultura, a partir da balança comercial e de informaçõesde mercado, o valor da uréia, do superfosfato simples e docloreto de potássio, principais produtos usados na fabricaçãode fertilizantes, aumentaram, respectivamente, 57%, 78% e 90% nomercado internacional, entre fevereiro de 2007 e 2008. No mercadointerno, o aumento foi de 23%, 55% e 42%, respectivamente. Segundo o coordenador-geral de AnálisesEconômicas do Ministério da Agricultura, MarceloGuimarães, mais reajustes devem ser feitos com os próximoscarregamentos que chegarem ao país. O Brasil importa cerca de70% dos fertilizantes que consome.O agricultor Ademir Rostirolla, que vive daprodução de soja há mais de 35 anos, nomunicípio de Campos Júlio (MT), reclama da alta dosinsumos. “No ano passado, comprei adubo a US$ 300 a tonelada e,neste ano, está em torno de US$ 750. Subiu 150% a tonelada deadubo que é o principal insumo usado na produçãode alimentos”. O sojicultor complementa: “se o governo quer darcomida barata, tem que achar um mecanismo para baixar os custos deprodução”. Estima-se, por outro lado, que a produçãonacional de fertilizantes vá aumentar, justamente por contados preços altos do produto importado. “Mas a resposta émais demorada que na agricultura. A agricultura responde em seismeses, uma planta industrial leva mais tempo para ser instalada",afirmou o secretário de Relações Institucionaisdo Agronegócio.Já o dirigente da FAO defendeu uma políticade preços para os produtos agrícolas que mantenham osagricultores em suas propriedades, para que não se repita oexemplo chinês. Lá, milhões de trabalhadoresrurais se deslocam para os centros urbanos a cada ano. Assim, alémde menos pessoas trabalhando no campo, o consumo cresce a níveismuito elevados. “Em 20 anos, o consumo de carne por habitante naChina cresceu de 20Kg para 50Kg”, disse.Por conta do aumento da demanda e dos preçosdos fertilizantes, o governo chinês taxou em 135% asexportações do produto, praticamente anulando a vendapara outros países. A China é um dos maiores produtoresmundiais de fertilizantes.Estudos da FAO indicam que o aumento da demandapor fertilizantes deve crescer 1,4%, ao ano, até 2011. Jáa oferta, de acordo com os investimentos da indústria dosetor, crescerá 3% ao ano. Entretanto, é provávelque os preços continuem elevados até lá.