Wellton Máximo
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O Brasil não corre risco de enfrentar escassez de alimentos por causado cultivo de áreas para a produção debiocombustível, assegurou o ministro da Agricultura, ReinholdStephanes. Ele reagiu às declarações do suíçoJean Ziegler, diretor de Direito à Alimentaçãoda Organização das Nações Unidas (ONU),que hoje (14) classificou a produção de biocombustíveiscomo “crime contra a humanidade”.“Aprodução de biocombustível não écrime contra a humanidade, desde que seja planejada de forma correta,como o Brasil está fazendo, com uma política energéticadefinida e a criação do zoneamento agroecológicoambiental”, disse o ministro.SegundoStephanes, não há, no Brasil, competiçãoentre a produção de etanol e de alimentos. Isso porque,na sua avaliação, a política energéticabrasileira é claramente definida e cana-de-açúcaré a matéria-prima mais adequada para o combustível,com custos baixos e sem a necessidade de subsídios para serproduzida.Para oministro, a prova de que o desequilíbrio mundial na produçãode comida não afeta o Brasil é que o paísconsegue assegurar alimentos para toda a população e, acada ano, ampliar o excedente para exportação. “OBrasil concentra 50% das exportações de carne, 50% dasde açúcar, 40% das de café e lidera o mercadomundial de sucos”, ressaltou. “Nossa participaçãonas exportações está crescendo mais que a dosEstados Unidos.”Emrelação ao biodiesel (combustível extraídoprincipalmente de mamona, dendê e babaçu), o ministroafirmou que também não existe risco de falta dealimentos, porque todo o avanço na produção sedá em áreas de pecuária. Nesse caso, destacouStephanes, a produção de carne não éafetada, porque os pastos passam a ser melhor aproveitados.“OBrasil tem hoje 0,6 boi por hectare, quando o correto seria pelomenos 1,5 boi. Teoricamente, podemos aumentar a produçãode carne, reduzindo a área de pastagem”, argumentou.De acordocom o ministro, os biocombustíveis representam ameaça àoferta de alimentos apenas nos países desenvolvidos, semmatéria-prima e que têm de subsidiar a energia limpa(não-poluente). Nos Estados Unidos, informou Stephanes, ossubsídios ao etanol de milho equivalem a pelo menos o valor daprodução. Lá, enfatizou, os custos representam odobro em relação ao álcool combustívelextraído de cana-de-açúcar no Brasil. Na Europa,acrescentou, o custo chega a ser três vezes superior: “Ossubsídios elevados é que provocam distorçõesna oferta de alimentos."Naavaliação do ministro, o principal fator doencarecimento dos alimentos no mundo não são osbiocombustíveis, mas a escalada no consumo de comida porpaíses em desenvolvimento, principalmente China e Índia,onde a população passou a comer melhor.“Há15 anos, a China não importava um grão de soja. Hoje,entre óleo, grãos e farelos, ela compra 80 milhõesde toneladas, o que equivale a um crescimento de 23% ao ano”,comparou o ministro. “Enquanto isso, o Brasil só consegueaumentar a produção agrícola, em média,5% por ano.”