Paula Laboissière
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Discutir segurança alimentarsem ter sua terra reconhecida é a tarefa de Iranilde Barbosa,indígena da etnia Macuxi que vive na reserva Raposa Serra doSol, no estado de Roraima. Ao participar hoje (11) do segundo dia daConferência Especial pela Soberania Alimentar, pelos Direitos epela Vida, em Brasília, ela disse que a situação“precária” em que vivem os índios da AméricaLatina e do Caribe torna difícil assegurar o direito àalimentação.
“Temos indígenas que estãotrabalhando nas grandes plantações de cana-de-açúcare de arroz como escravos. Eles só têm a perder com isso.O que eles [os proprietários das terras] querem sãoos índios que estão com saúde. Depois queadoecem, eles demitem”, afirmou ela.
Iranilde lembrou que a terraindígena Raposa Serra do Sol foi homologada em 2005, mas aluta pela titulação da área e pela retirada dosarrozeiros da região permanece ainda hoje.
“Nossa terra, mesmo quando éhomologada, é invadida pelos não-indígenas queplantam grande quantidade de acácia e de arroz, o que nosimpede de trabalhar. Não podemos ter uma vida saudávelporque, se não tivermos a terra, não vamos teralimentação ou moradia.”
Ela contou que, por causa doconflito na região, vários indígenas acabammigrando para as cidades mais próximas, onde a maioria viramendigo e passa necessidades.
“Somos o povo que está maisvulnerável a essas condições, porque o governonão dá subsídio para que a gente possaconstruir, plantar ou ter uma alimentação saudável.Já os grandes latifundiários têm esse apoio dogoverno e dos bancos .”
Os índios de Raposa Serra doSol, segundo Iranilde, vivem em um pedaço de terra que, alémde disputado por muitos, não oferece a possibilidade demétodos tradicionais de subsistência para o povo Macuxi,como a caça e a pesca.
“Roraima é um dos estadosda Região Norte que tem a maior área de terrasindígenas. O governo tem que tirar aquelas pessoas[não-índios] de lá para que a gente possatrabalhar e ter a nossa alimentação. Esse povo trouxemal para nós, levou bebida, doenças e muita desuniãodentro da nossa pobre comunidade. Não é que a gente nãoqueira trabalhar, mas como vamos trabalhar em um local onde a gentenão tem paz nem segurança?”