Para organizações sociais, criação da Unasul é necessária e urgente

13/03/2008 - 19h52

Alana Gandra
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A construção da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) deve representar o fortalecimento da democracia, ao mesmo tempo em que preserva os interesses dos povos do continente. Essa é a  tônica da mensagem encaminhada hoje (13) pelos representantes da Rede Brasileira pela Integração dos Povos (Rebrip), da Aliança Social Continental (ASC) e da organização Jubileu Sul Américas aos delegados dos países da região que debatem a Unasul no Palácio Itamaraty, no Rio de Janeiro.

“Nós pensamos que é preciso e é urgente na América do Sul construir uma integração que possa aproveitar este momento histórico de transformações que estão vivendo alguns países. E aproveitar isso para ter uma inserção no mundo diferente do ponto de vista da região. Como uma perspectiva de levar em conta os interesses dos povos que vão no sentido de superar as históricas desigualdades que tem a região, não só entre países, mas também entre as pessoas, dentro dos países”, afirmou Graciella Rodriguez, da coordenação da Rebrip.

A idéia é que o novo bloco tenha força não só política e econômica, mas em todas as demais áreas, acrescentou, ao afirmar que a principal força que a integração pode ter é a de oferecer um modelo alternativo de desenvolvimento e de inserção no mundo global a partir da unidade.

Rodriguez disse não ser possível mudar o processo de desenvolvimento de um país de forma isolada: “Os países, para ter uma real inserção diferente, têm que se integrar. E nós queremos tentar que essa integração seja a força suficiente para mudar esse modelo de desenvolvimento da região, que nos tem colocado numa posição subordinada no mundo.”

Nesse sentido, ela considerou que a integração pode ser uma oportunidade para se exigir mudança no modelo de produção tradicional da região, baseado na exportação de minérios, produtos agrícolas e recursos naturais. Para isso, disse ser necessário que os países pensem coletivamente, destacando as necessidades dos povos e os mercados internos, e não o que as grandes empresas estão desenhando na região – “isso só serve para aprofundar esse modelo exportador e a fuga de divisas".

A posição da Rebrip e demais organizações sociais levada ao encontro de delegados da Unasul prioriza a agenda dos direitos sociais, englobando os direitos dos cidadãos, dos povos e, em particular, dos povos indígenas. Graciela Rodriguez denunciou que pontos importantes, como políticas sociais e educação, têm sido negligenciados na discussão da Unasul. “A Unasul  tem uma agenda muito pesada nos temas da infra-estrutura, da discussão do modelo energético para a região e do financiamento desse processo. Mas não tem o tema do comércio, que sabemos é uma divisão grave na região – há países que apostam em processos de livre comércio, em acordos com Estados Unidos e União Européia, enquanto outros resistem e buscam outras alternativas. A agenda dos direitos, da educação, das políticas sociais e o modelo econômico têm que estar no centro do debate", afirmou, ao defender a necessidade de maior transparência nas negociações e de realização de um debate amplo com a sociedade. O processo de integração dos 12 países sul-americanos ganhou força a partir de 2005, após a realização da Cúpula de Mar Del Plata, que descartou a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca).