Dois anos depois, absolvição de coronel que atuou no massacre do Carandiru ainda divide opiniões

15/02/2008 - 19h02

Marco Antônio Soalheiro
Repórter da Agência Brasil
Brasília - A absolvição do coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo Ubiratan Guimarães, responsável pela invasão - ocorrida em 1992 - da casa de detenção do Carandiru, ainda divide opiniões. No dia 15 de fevereirode 2006, o Tribunal de Justiça de São Paulo anulousentença que condenava o coronel Guimarães a 632 anos de prisão porchefiar a invasão noCarandiru. O episódio resultou em 111 mortes, em outubro de 1992. Se parauns, a decisão da Justiça que completa hoje dois anos foi apropriada, para outros veio somente agravar o sentimento deimpunidade em relação ao episódio, já quenenhum dos 120 policias denunciados pelo massacre foi condenado atéagora. “Me causou uma grandefrustração [a absolvição], que aumentoupor não ter sido possível levar a questão aoSuperior Tribunal de Justiça”, lamentou em entrevista àAgência Brasil o procurador da promotoria de justiçado Ministério Público de São Paulo, AntônioVisconti, se referindo à morte do coronel Ubiratan em 11 desetembro de 2006, quando foi encontrado em casa com uma marca de tirono peito.Visconti foi oresponsável pela sustentação oral da acusação contra Ubiratan no julgamento de 2006. Oprocurador afirma ter notado de antemão um "sentimento geral" favorável à absolvição docoronel e que os magistrados recorreram a uma “saída técnicaengenhosa” diante de uma base de provas que, segundo ele,evidenciava a culpa pelo massacre.“O excesso jácomeçou na escolha dos meios. O coronel determinou tropas deconfronto e não de contenção. Aí éque reside a responsabilidade dele. Bastava um cacetete e usarammetralhadora”, argumentou.Já a assessoraparlamentar Karina Rodrigues, que trabalhou com o coronel Ubiratanentre 2002 e 2006, quando ele foi deputado estadual, alega que aabsolvição, apoiada por todos os desembargadores doórgão especial do TJSP, com exceção dorelator e do revisor, fez justiça ao acusado. O entendimentofoi de que o coronel teria agido no estrito cumprimento de seu deverfuncional. “Havia fogo quechegou a 800 graus e se chegasse a 1000 graus derreteria todo mundo.Os bombeiros precisavam entrar lá dentro, mas primeiro apolícia tinha que acabar com a rebelião. Estavam sendo cometidoscrimes lá dentro”, disse Karina. As investigaçõesapontaram que 9 presos foram mortos em confrontos entre si e outros102 após a entrada da polícia na casa de detenção.A ex-funcionária do coronel relativiza a quantidade de mortes registrada. “Foi bom morrer 102? De jeito nenhum, mas haviam 2.064presos lá dentro. Em termos de contas vamos falar em 5%.Morreu quem enfrentou a polícia”.Karina Rodrigues lançourecentemente, em parceria com jornalista Hélvio Borelli, umlivro que, segundo ela, traz “todos os lados” do episódio. A obra inclui depoimentos de carcereiros, presos e policiais queestavam no Carandiru no dia do massacre .O ex-ministro da Justiça José Gregori, hoje presidente da ComissãoMunicipal de Direitos Humanos de São Paulo, acompanhou dois dias dejulgamento e, do ponto de vista técnico, considerou que os argumentosapresentados pela defesa foram mais consistentes que os dapromotoria. Mas a constatação não reflete o posicionamento pessoal deGregori em relação ao episódio.  “Nunca absolvi em consciência o comandante da operação. Elearrasou um motim e não solucionou. Não estando o Brasil num regimenazista ou estanilista, não tem qualificativo. Na melhor das idéias,ele foi incompetente. Esse comportamento funcional não é aquele dosque vão para a galeria de honra da Polícia Militar”, afirmou Gregori .