Projeto ajuda família a encontrar crianças e adolescentes desaparecidos em SP

08/02/2008 - 17h54

Flávia Albuquerque
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - Cerca de 600 famílias estão cadastradas em um projeto inédito no país que tem por objetivo identificar e estudar o desaparecimento de crianças e adolescentes, por meio de um banco de dados que contém o perfil genético dos familiares dos desaparecidos.O banco de DNA do Projeto Caminho de Volta foi idealizado por profissionais da Faculdade de Medicina Legal da Universidade de São Paulo (USP) e funciona desde 2004 com o apoio do banco Nossa Caixa, além de já ter recebido financiamento do governo federal e de entidades da sociedade civil.De acordo com uma das coordenadoras do Eixo Psicológico do Caminho de Volta, Claudia Figaro Garcia, o material armazenado é usado para comparações com o material genético das crianças e adolescentes encontrados, para comprovar se há parentesco com alguma das famílias cadastradas, em casos de desaparecimentos recentes ou não. “O DNA ajuda a localizar uma criança,  principalmente pequena, já que se demorar muito a fisionomia muda, ela cresce o corpo também é modificado ou até em casos de morte, quando é encontrada apenas a ossada”, explicou. E destacou que 85% dos casos de desaparecimento de crianças e adolescentes têm como principal motivo a fuga, muitas vezes para outras cidades ou estados: "Eles acabam indo para abrigos, por não saberem dizer quem são os pais, de onde vieram, como foram parar no local".Para facilitar a identificação, inclusive de crianças levadas de seus pais, desde 2005 existe uma portaria no estado de São Paulo que determina aos juízes das Varas de Infância e Juventude enviar ao Caminho de Volta um pedido para que as crianças dos abrigos que têm filiação duvidosa ou desconhecida cedam material genético, que integrará o banco de DNA. "Todas as amostras são armazenadas na Faculdade de Medicina e nós temos um seqüenciador capaz de avaliar até 2 mil amostras por semana”, informou a coordenadora. Com a evolução do projeto, acrescentou, os profissionais perceberam a necessidade de analisar as causas dos desaparecimentos e o que acontece com uma família quando isso ocorre. Por isso decidiram implantar um serviço de psicologia e psicanálise. Convênio com a Secretaria Estadual de Segurança Pública possibilitou a criação, em 2004, de um núcleo do projeto no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), com profissionais que fazem até quatro entrevistas com as famílias."O serviço é gratuito e voluntário e está disponível em todas as delegacias do estado. Quem tem um parente menor de 18 anos pode se integrar ao projeto, depois de abrir um Boletim de Ocorrência", disse, ao informar que até o ano passado o projeto havia encontrado dois corpos de crianças por meio do DNA e uma criança por meio das entrevistas. O projeto já foi implantado também no Paraná e a intenção é estendê-lo a outros estados, o que depende do interesse dos governos, segundo a coordenadora: "É preciso que as Secretarias de Segurança Pública queiram que isso aconteça, porque podemos analisar material do país inteiro, mas precisamos que os estados montem as equipes e fiquem responsáveis por elas.”Anualmente, em São Paulo desaparecem cerca de 9 mil crianças e adolescentes. No país, o número sobe a 40 mil, mas de acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria Especial de Direitos Humanos, não existe um banco de dados nacional que reúna informações sobre esses desaparecimentos. Segundo a secretaria, há intenção de criar esse banco de dados, mas a execução do projeto demandaria a criação de um sistema integrado com todas as delegacias.