Organização social baiana é discriminatória, avalia conselheiro da PM

05/02/2008 - 19h02

Hugo Costa
Enviado especial
Salvador - O índice de conflitos entre policiais militares e a população negra de Salvador é reflexo da predominância de afro-descendentes no estado, avalia o conselheiro do Núcleo de Religiões de Matrizes Africanas da Polícia Militar (Nafro), major Paulo Peixoto. Possíveis excessos, segundo ele, seriam motivados pelas divisões sociais existentes. “Nós temos uma maioria negra dominada por uma elite branca. Isto se reflete em todas as instâncias de poder: na educação, na saúde, no serviço público. E logicamente isso – de uma certa maneira, não de forma deliberada pela instituição – vai se refletir na segurança pública”, disse. O descompasso entre a formação da sociedade e os líderes que a representam, na opinião do major, caracteriza os problemas étnico-raciais apontados pela população negra. “A sociedade baiana é fundamentada na diferença racial. Salvador tem aproximadamente 80% da população afro-descendente, mas se você analisar as instâncias de poder em nível municipal e estadual, o Executivo é constituído por uma elite branca há 500 anos. A partir daí, você começa a perceber que a formatação da sociedade é discriminatória contra os negros”, acrescentou.  Em relação às denúncias de que os negros seriam as maiores vítimas de arbitrariedades da policia, Peixoto disse não acreditar que os atos sejam propositais: “A Polícia Militar atua nos bairros periféricos, que são majoritariamente habitados por pessoas negras. Portanto, os confrontos vão ocorrer entre negros e policiais militares – não que a Polícia Militar saia de seus quartéis deliberadamente para matar negros.”