Carnaval voltou a ser festa de vários ritmos, aponta escritor

05/02/2008 - 16h31

Adriana Brendler
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Depois de passar pela predominância do frevo, das marchinhas, do samba-enredo e do axé, o carnaval é hoje uma festa de vários ritmos musicais – como foi até o início do século passado. A avaliação é do historiador carioca Ancré Diniz, secretário de Cultura de Niterói (RJ) e autor do livro Almanaque do Carnaval.“A marchinha nunca foi um gênero musical de massa, como o samba ou o frevo. Surgiu na classe média, nos bailes carnavalescos e nos blocos de rua. O formato fica para o passado com a ascensão do samba das escolas, que foi avassaladora no Brasil inteiro. Mas o samba-enredo também vai definhar depois, com a ascensão do axé na década de 90. Hoje, novamente, no carnaval se canta tudo: samba-enredo, marcha, axé, funk, hip hop. A gente voltou a não ter uma prevalência absoluta de um gênero musical”, sintetizou o historiador.Em entrevista hoje (5) na Rádio Nacional, Diniz lembrou a evolução dos quatro gêneros carnavalescos tipicamente urbanos que fizeram sucesso no Brasil: samba e marchinha (originários do Rio de Janeiro), frevo (de Pernambuco) e axé (da Bahia). Segundo ele, frevo e samba surgiram quase ao mesmo tempo, no começo do século 20 – o primeiro entre 1910 e 1915, e o samba entre 1917 e 1920, após a gravação de Pelo Telefone, composição de Donga e Mauro de Almeida considerada a primeira do gênero no país. De acordo com o historiador, antes desses gêneros não havia um tipo específico de música para o carnaval: "Era uma festa em que se cantava de tudo. No Rio de Janeiro, faziam sucesso até trechos de óperas, como La Donna é Mobile, do Rigoletto, de Verdi.” Para Diniz, o samba e do frevo surgem como produção musical característica de um país mestiço. “Uma música com influência européia, com influência da tradição negra e com uma grande pincelada de ritmos latino-americanos. É uma produção urbana de Recife e do Rio de Janeiro, que serão as cidades-referência. Então, já são gêneros miscigenados produzidos para o carnaval e que vão se tornar cada vez mais populares”, afirmou, ao lembrar que apareceram logo após a criação da indústria fonográfica (1902) e pouco antes do aparecimento do rádio, que vai ajudar a criar o perfil da sociedade de consumo. A história musical do carnaval, acrescentou, avança com as marchinhas, que surgiram na década de 20, no Rio de Janeiro, e ganharam força com o rádio, da década de 30 à de 60, quando ocorre a ascensão do samba-enredo.Diniz conta que primeiro veio a chamada marcha-rancho, executada pelos blocos de ranchos, uma espécie de pré-escola de samba. Eram canções mais cadenciadas e harmoniosas, segundo ele, que citou como exemplo As Pastorinhas, de João de Barro (Braguinha) e Noel Rosa. Depois veio típica marchinha, “mais brejeira , mais comunicativa, explorando o duplo sentido”, como Mamãe Eu Quero e outras do próprio Braguinha e de Lamartine Babo, entre outros compositores. A transmissão, pela televisão, dos desfiles de escolas de samba do Rio de Janeiro e, mais tarde, de São Paulo, explicou o historiador, coincidiu com a ascensão dos sambas-enredo. Depois, na década de 90, a mesma mídia levaria para todo o país o fenômeno baiano do axé.