Kelly Oliveira
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Dos bailes de elite às manifestações populares - essa é a trajetória do carnaval, quesurgiu no Brasil por volta de 1830. Segundo a professora doDepartamento de História da Universidade Federal FluminenseRachel Soihet, antes desse período, a população se divertia,no início de fevereiro, com o entrudo, uma brincadeira de origem portuguesa e espanhola que consistia em jogarágua e pó uns nos outros. “Todo mundo brincava. Diz-se,inclusive, que o imperador gostava muito”, afirmou a professora, em entrevista à Rádio Nacional.Entretanto, depois dachegada da família real portuguesa e da Independência do país, as idéias francesas ganharam o Brasil. “E começa-se a achar que aquele carnaval[a brincadeira do entrudo] era uma coisa atrasada. Precisava importar alguma coisa civilizada comose fazia na França”. Daísurgiram "os bailes, os carros alegóricos, confetes e serpentinas", disse Rachel.“Isso era uma forma de mostrar que, até na festa, o Rio [deJaneiro] atingia ares civilizados. O carnaval começou comouma festa de elite.” Ospopulares, principalmente os negros, que começaram a levarsuas manifestações às ruas, eram mal vistos e reprimidos pela polícia. “Com os tamborins, instrumentos de percussão,formaram os primeiro blocos. No princípio, eles eram muito malvistos”, acrescentou a professora.Até 1930, a maioria dos brasileiros nãovotava e não havia participação popular na República. Então, as festas populares foram uma forma de estabelecer umaidentidade, como explicou a professora. “Apesar de toda a repressão, eles vão semanter. A gente vai ter uma série de manifestações,blocos, cordões e, depois, os ranchos, que começam a sermais bem vistos. As escolas de samba só surgem no final dosanos 20”.Com a Revoluçãode 30, as manifestações popularescomeçam a ser valorizadas. “Para isso, contribuíram bastante asidéias modernistas, que diziam que a base da naçãoestá no povo”, disse a professora. Nos anos 50, surgem osprimeiros carnavalescos, como Fernando Pamplona, da Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, e asmanifestações populares vão aos poucos sesofisticando. “A escola de samba vai se apropriando de elementos demanifestações anteriores que seriam da elite, como oscarros das grandes sociedades. Esses carros alegóricos que agente hoje vê nos desfiles são importados das grandessociedades. Mas isso não significa que os populares estãofora dessa festa.” “Hoje o Carnaval éuma festa de todo mundo”, concluiu Rachel Soihet.