Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil
Brasília - Apesar de ter uma taxa de mortalidade três vezes menor que a média mundial, o Brasil ainda tem muito o que fazer no sentido de reduzir as desigualdades entre as diferentes regiões do país. A avaliação é da representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Brasil, Marie-Pierre Poirier. Como exemplo, Marie-Pierre cita o caso do Nordeste. Enquanto a média nacional, entre crianças com menos de cinco anos de idade, é de 20 mortes para cada mil nascidos vivos, no Nordeste esse número chega a 45,9. Em 1990, o Nordeste registrava uma média de 95,7 mortes para cada mil nascidos vivos. Foi a maior redução no período, mas a taxa continua sendo mais do que dobro da média nacional, equiparando-se aos índices do Oriente Médio e do Norte da África. No estado de São Paulo, a taxa é de 18,4.“Dizer que o Brasil está pronto para chegar na meta do milênio, exceto no Nordeste, é como falar que o mundo vai alcançar, exceto a África. É um passo, mas não é suficiente”, pondera a representante do Unicef. “Quando todos tiverem a taxa de mortalidade de São Paulo, vamos discutir como fazer cair ao nível da França e da Itália”, afirma. Nestes paíes, o índice é de quatro mortes por cada mil nascidos vivos.No Brasil, as diferentes taxas de mortalidade não revelam apenas desigualdades regionais, mas também raciais e étnicas. De acordo com o Unicef, o índice sobe para 27,9 entre crianças negras – 40% a mais do que entre crianças brancas – e para 48,5 entre crianças indígenas. “Temos que organizar um pouco as polítcas públicas, continuando com a dinâmica positiva, mas dando prioridade a essas regiões e a esses grupos populacionais que ficam esquecidos”, ressalta. “O Brasil está chegando num momento no qual a política nacional de saúde não é apenas uma questão técnica. Há fatores culturais e humanos que devem ser trabalhados”, defende.Segundo Marie-Pierre, as principais causas de mortalidade são doenças respiratórias em geral e doenças como a malária, a violência e a falta de condições adequadas de higiene, como o acesso à água potável. Como caminhos daqui para frente, o Unicef aponta, por exemplo, a necessidade de atenção contínua ao pré-natal e ao atendimento ao parto e ao recém-nascido. “Esse eixo, que está no PAC da Saúde, tem que se fortalecer e receber maior atenção, particularmente no Norte do país onde caiu o número de mulheres que tiveram acesso às consultas pré-natal”, ressalta. Outra medida recomendada pelo Unicef é aproximar a família e o município – atores que, segundo Marie-Pierre, podem agir de maneira muito mais eficaz no combate às causas da mortalidade. Por fim, o Unicef sugere uma gestão de políticas públicas a partir do acompanhamento dos resultados. “É preciso realmente acompanhar de perto onde o Brasil apresenta as maiores vulnerabilidades, ver quais as políticas que estão dando certo e onde precisamos melhorar”, afirma.