Luana Lourenço
Enviada especial
Porto Velho (Rondônia) - Administrador de um dos municípios brasileiros que mais receberá recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o prefeito de Porto Velho (RO), Roberto Sobrinho (PT), prefere ser cauteloso ao comentar a expectativa de crescimento acelerado da economia local nos próximos anos, estimulada principalmente pela construção das usinas hidrelétricas do Rio Madeira, orçadas em R$ 20 bilhões.Em entrevista à Agência Brasil, Sobrinho detalhou que os cerca de R$ 600 milhões já repassados pelo governo federal ao município serão gastos em investimentos em saneamento e programas de habitação popular. Ele, no entanto, acredita que o impacto das usinas sobre o contingente de pessoas atraídas para a capital pode ser menor que o esperado.“Prever número é um exercício de futurologia. Talvez não aconteçam grandes deslocamentos, o país não passa por uma recessão. Há postos de trabalho nos estados”, avalia.Para Sobrinho, as hidrelétricas “não podem ser vistas como um fim, mas um meio” e devem ser encaradas como oportunidade de consolidação de bases de crescimento para Porto Velho para evitar o posterior esvaziamento da cidade e da economia local, como ocorreu em cidades que abrigaram obras de grandes hidrelétricas, como Tucuruí (PA).De acordo com o gestor, outros ciclos econômicos vividos pelo estado, como o garimpo na década de 1980, resultaram mais em impactos negativos que benefícios para a região. “Levaram as riquezas e ficaram apenas os problemas sociais”, observa.Este ano, a prefeitura deverá começar a executar os projetos de saneamento para expandir o tratamento de esgoto, que atualmente só atende a 3% da população, e universalizar o abastecimento de água, hoje restrito a 50% dos moradores. Também estão previstas 1,2 mil casas populares para famílias que vivem em torno de canais e palafitas às margens do Rio Madeira.Em relação ao estímulo que a melhoria da infra-estrutura e o crescimento econômico da região podem dar ao avanço do desmatamento, Sobrinho afirma que não há necessariamente relação direta entre os empreendimentos e a pressão sobre a floresta.“A pressão sobre a floresta se dá hoje não em função dos empreendimentos, mas por causa da indústria da madeira”, aponta. “Ela [a madeira] ficou escassa em determinadas regiões do estado, o que fez as madeireiras se deslocarem para cá.”Sobre o possível aumento das plantações de soja nos arredores de Porto Velho, o prefeito transfere a responsabilidade para o governo estadual. Segundo ele, a soja já está ganhando espaço no interior de Rondônia, e o avanço rumo a Porto Velho dependerá de políticas de desenvolvimento do estado, não da prefeitura. “Se o estado entender que esse tipo de atividade econômica é a mais adequada, ele pode até estimular o plantio de soja. Eu, particularmente, não acredito nisso e não sou a favor”, ressalta.